quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Falhamos, filha. Agora é com vocês! Ou: Brasil, o eterno país do futuro


Rodrigo Constantino para Veja
Minha filha, com quase 12 anos, quis entender o que tinha acontecido hoje. Muita gente de “luto” no Facebook, e eu mesmo nitidamente triste. Expliquei assim para ela durante o jantar:
Muitos advogados, juízes e ministros aprendem desde cedo a manipular as leis, encontrar brechas legais para evitar a punição da justiça. Exemplo: vamos supor que uma lei diga claramente que ninguém pode mexer nesse copo. Agora vamos supor que eu mexa nele, mas usando esse saleiro. Eu mexi no copo? Para esses juristas, não! Afinal, eu mexi foi no saleiro, e este é que fez o copo mexer. Mas em momento algum eu toquei no copo. Entendeu? Parece absurdo, claro, fere o “espírito da lei”. Mas, do ponto de vista estritamente legal, eu realmente não toquei no copo.
A justiça hoje foi para a lata do lixo. Mensaleiros, gente do pior tipo que tentou usurpar nossa democracia, que tentou coaptar os políticos para concentrar todo o poder em um único partido, tal como seus camaradas fizeram nos países vizinhos latino-americanos, terão direito a um novo julgamento, sabe-se lá em que prazo, e alguns de seus crimes devem prescrever.
Ou seja: não veremos um “chefe de quadrilha” como José Dirceu ser preso, pagar pelo seu crime, dormir atrás das grades. O Brasil manda pobres e negros para a cadeia, como sempre disseram os esquerdistas, mas livra os brancos e poderosos do PT! Ricos, poderosos, e impunes, mas falam em nome do povo, do pobre. Canalhas!
A geração dos meus pais fracassou em transformar o Brasil. Continuamos um país tupiniquim, de Terceiro Mundo, injusto. Avanços ocorreram, claro, mas tímidos, poucos, parcos. Enquanto isso, vimos outros países em trajetória bem mais acelerada rumo ao desenvolvimento, e não digo apenas econômico; institucional mesmo.
Agora foi a minha geração que falhou, filha. Devemos todos desculpas aos nossos filhos. Não conseguimos – e digo isso enquanto parte da elite – construir uma República que valha o nome. Continuamos não sendo um país sério. Seguimos com uma República totalmente inacabada, e agora claramente regredindo. A Sociedade Aberta ficou mais fechada.
Fomos dormir Brasil, acordamos Argentina. E em breve poderemos despertar Venezuela, se não acordarmos de fato para os riscos que corremos. Vocês, nossos filhos, não mereciam isso. O destino não é inexorável. Não há fatalismo nisso. O futuro somos nós quem escrevemos.
Infelizmente, temos escrito errado. Nenhum país pode passar imune a mais de uma década de PT no poder. É impossível. O PT é uma praga, um partido disposto a tudo pelo poder, com ranço ideológico e autoritário jamais visto. Não escolhem suas amizades à toa: sonham em tansformar o país em um “Cubão”. Lamento dizer, mas estão conseguindo.
Filha, minha geração também falhou. Não fomos capazes sequer de barrar o estrago petista; muito menos construir um país de primeiro mundo para você e sua geração. Agora a bola estará com vocês. Que tenham mais sabedoria, mais determinação, mais vontade de lutar por princípios, por valores, pela ética. Que saibam deixar interesses mesquinhos de lado em nome de algo maior. Que não se vendam para golpistas.
Que não vendam a eles a corda que vão usar para enforcá-los! Porque nós, seus pais, fizemos isso, e aí está o resultado: enforcamos nossa Justiça e garantimos a eterna impunidade dos ricos e poderosos. O PT conseguiu destruir nossos sonhos e esperanças.
Mas não fez isso sozinho. Houve passividade ou conivência da elite. É a qualidade da elite que determina o destino de uma sociedade. Que a elite de sua geração seja melhor do que a nossa. É tudo que posso desejar a você, enquanto insistir em viver e apostar em meu país, o Brasil, o eterno país do futuro.

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