sexta-feira, 18 de junho de 2010

HEITOR DINIZ

Em Goiânia, beba no Esmeraldas Pub

"Se você vive em Goiânia e quer uma sugestão de um grande bar, vou te indicar um: conhece o Palácio das Esmeraldas? A sua conta por lá está paga pelo resto do ano"


OK, a primeira partida do Brasil na Copa não foi lá essas coisas. Mas a seleção ganhou, faturou os três pontos e a liderança do grupo. Por enquanto, é o parâmetro com o qual se preocupar. Então (por que não?), a hora é sim de comemorar.

Para tanto, no mais das vezes, o torcedor escolhe os bares. Se você vive em Goiânia e quer uma sugestão de um grande bar, vou te indicar um que certamente irá surpreendê-lo: conhece o Palácio das Esmeraldas? Se não, você não sabe o que está perdendo, pois a sua conta por lá está paga pelo resto do ano, e por 2011 adentro.

Em tempo: para quem é de fora, como eu, Palácio das Esmeraldas é nada menos do que a sede do governo de Goiás.

Aos fatos: os meses de março e abril deste ano assistiram a dois pregões eletrônicos bastante peculiares por aquelas bandas, ambos a pedido da Secretaria-Geral da Governadoria do estado de Goiás, atendendo às “necessidades”, veja você, do Esmeraldas Pub... ops! Palácio das Esmeraldas.

Vamos começar pela preferência nacional, a cerveja: nada de miséria por aqui. De garrafas de 600ml são 180 caixas, com 24 unidades cada. Resumindo: 4.320 garrafas para um período de um ano. São nada menos do que 12 garrafas por dia, com direito à mesma cota aos sábados, domingos, feriados, feriadões, recessos etc, etc.
Se você prefere as latinhas, o governo de Goiás não se esqueceu de você. São 360 caixas, com 12 latas de 350ml cada, totalizando novamente 4.320 latinhas, e a mesma cota de 12 por dia.

Os refrigerantes são um capítulo à parte. Tem de todos os sabores, em todas as embalagens e nas variedades comum e light. Garrafas de 290ml são 4.608 (12,8 garrafas por dia). PETs de dois litros são 1.080 pacotes, com seis garrafas cada, totalizando 6.480 (18 PETs por dia). Já as latinhas são 3.660 pacotes com 12 unidades cada, somando 43.920 latinhas (nada menos do que 122 por dia!).

Há também sucos, que vêm no montante de 6.840 litros (19 litros por dia).

Pensa que parou por aí? Digo que não. Ainda faltam os aperitivos, os licores, o whisky e uma formidável carta de vinhos. 24 garrafas de conhaque (duas por mês), 12 licores do tipo Amarula, outras 12 do famoso licor Drambuie, mais 12 do Frangélico e 144 garrafas do fantástico e tradicionalíssimo licor de pequi, este último numa também fantástica cota de 12 garrafas por mês. Ah, sem falar na aguardente, disponível na versão comum (144 garrafas) ou com malte (2.880 garrafas, ou oito por dia!!!).

Quanto aos vinhos... Bem, o Esmeraldas tem à sua disposição, torcedor, eleitor e cidadão, 5.436 garrafas (15 por dia). Esse número já seria por demais exuberante, não fosse o preço de alguns desses rótulos. O mais caro deles chega a R$ 2.981,00 por garrafa... e o governo comprou 24 dessas.

Para recuperar o fôlego ou a energia, você pode tomar uma das 2.880 latas de energético, seja puro, seja acompanhando uma das 288 garrafas de whisky 12 anos.

E você se lembra quando eu disse, caro leitor, que a sua conta estava paga? Pois é. Ficou em R$ 688.039,80. E nem precisa se preocupar com os 10%, porque 100% dessa “dolorosa” saiu de um bolão gigantesco chamado IMPOSTOS. Pagos adivinhe por quem?

Procurado, o governo de Goiás enviou uma resposta que, a meu ver, deixa tudo como está, uma vez que confirma os valores, dizendo apenas que o palácio é "logradouro de reuniões, recepções sociais" e que, por isso, há "inúmeros almoços, coqueteis e jantares". Leia abaixo a íntegra da resposta:

"Em atenção ao seu pedido de informações, via e-mail, quanto à aquisição de bebidas por intermédio dos Pregões eletrônicos pelo governo do estado de Goiás, esclarecemos:

O Palácio das Esmeraldas, além de residência oficial do chefe do poder executivo estadual, é, também, a representação protocolar da sede do Governo. Assim, é o local onde são realizadas as solenidades oficiais, onde acontecem as recepções às delegações nacionais e estrangeiras que visitam ou são convidadas para investimentos e instalação de atividades econômicas que potencialmente o estado de Goiás apresenta. È também o logradouro de reuniões, recepções sociais e demais eventos da natureza que devem ser observados pelo protocolo oficial. Portanto, são inúmeros almoços, coquetéis e jantares que são realizados em atendimento às demandas, no decorrer de cada exercício.

Ressalva-se, porém, que o quantitativo do valor estimado não significa que a despesa necessariamente atingirá o limite.

Agradecemos o contato, colocamo-nos à disposição para quaisquer informações adicionais.

Atenciosamente,

HERCILIA OSÓRIO MAROCLO
Secretária em exercício"

*Heitor Diniz é jornalista de Belo Horizonte (MG). Acompanhe-o também em www.uai.com.br/cronicapolitica

fonte: Congresso em Foco

quarta-feira, 16 de junho de 2010

MIRIAM LEITÃO

Erro repetido

Quando o governo americano foi apanhado mandando espionar o partido adversário eclodiu nos Estados Unidos uma crise política sem precedentes e o presidente Richard Nixon caiu por impeachment. No Brasil, perdeu-se a noção de como é grave essa delinquência política. Não houve punição alguma quando o PT foi apanhado comprando dossiê no Hotel Ibis em São Paulo. Não haverá agora.

O ponto decisivo foi setembro de 2006, quando um grupo formado por dois graduados funcionários do comitê de campanha de reeleição do presidente Lula, um diretor do Banco do Brasil, o chefe de comunicação da campanha do então candidato do PT ao governo do estado de São Paulo, pessoas da copa e cozinha do presidente foram apanhados tentando comprar um dossiê contra adversários. Dois deles estavam com R$ 1,7 milhão na mão, em dinheiro vivo, sem origem comprovada.

Eles foram presos, depois soltos, o diretor do Banco do Brasil foi demitido com muitos elogios, o suposto chefe da operação é hoje próspero fazendeiro. A reação da ocasião foi tentar negar as óbvias ligações com a estrutura da campanha presidencial, o presidente Lula chamou-os de “meninos” e “aloprados”, e depois denunciou um suposto golpismo contra ele, Lula.

Os atuais indícios de que se pretendia espionar o candidato do PSDB ou que podem ter sido acessados dados sigilosos dentro da máquina da Receita Federal de um dos integrantes da direção do maior partido da oposição são a comprovação de que o que não é punido se repete. De novo, o presidente Lula usa o mesmo truque de tentar inverter a situação e colocar seu partido como vítima de uma armação.

Mais assustador do que um episódio isolado é o fato de que eles se repetem, numa clara indicação de que vão se tornando prática política no Brasil em período eleitoral. Espionar o adversário político usando escutas ilegais, acessando dados informados exclusivamente ao Setor Público e que estão protegidos por sigilo é totalmente inaceitável. Acostumar-se a isso é começar a cavar a cova da própria democracia, que pressupõe que todos se submetam às leis e que os partidos que governam são administradores temporários e não donos da República. Usar a máquina pública para intimidar adversários políticos é um veneno letal às instituições.

Há várias formas de ameaçar a democracia. Da mais óbvia delas, o golpe de Estado, aprendemos a nos defender. Mas existem outras formas sutis de solapar a democracia, deformá-la até que ela fique irreconhecível. O uso da máquina pública para fins partidários é uma delas. Outra, é a delinquência política reiterada e sem punição até que ela se torne parte dos usos e costumes do país.

O que torna o ambiente cada vez mais perigoso é que o Brasil não tem mais um presidente, tem um chefe político em campanha incessante. É isso que faz com que ele, em palanque, acuse a oposição de fazer “jogo rasteiro inventando um dossiê por dia”. A atitude correta do presidente deveria ser a de querer tudo esclarecido para se saber se foi realmente uma pessoa lateral na campanha da sua candidata que tomou uma atitude isolada ou parte de uma conspiração; se há funcionários públicos usando para fins políticos o acesso que têm a dados dos cidadãos.

Não há esperança alguma de que o presidente Lula se comporte como um chefe de um governo de todos. Ele é o flagrante mais explícito da mistura entre partido e governo. A última esperança de que agisse como estadista foi em 2006. À frente nas pesquisas, com claras chances de reeleição, ele poderia ter tomado uma atitude depuradora dos maus costumes políticos que estavam se instalando em seu próprio comitê de campanha. Como a condenação ficou apenas no levíssimo epíteto de “aloprados”, tudo ficou por isso mesmo. O sistema político brasileiro foi avisado de que essa prática é aceitável, basta, se alguém for apanhado, romper um contrato de prestação de serviço, isolar temporariamente a pessoa contaminada. O capítulo seguinte é fazer a transposição de papéis em que vítimas viram culpados, e os culpados, vítimas.

Ainda há 100 dias pela frente de campanha. Os candidatos estão lançados e agora começa oficialmente a campanha, que, na prática, o presidente Lula já começou há mais de ano. O balanço até agora é assustador. O presidente, mesmo punido cinco vezes pela Justiça Eleitoral, tem usado todos os atos públicos de governo para fazer propaganda partidária.

Um governo bem avaliado, um presidente com popularidade alta, num momento de crescimento econômico e otimismo não precisa de qualquer tipo de afronta às leis e aos bons costumes políticos para se manter no poder por mais um período. Se precisasse, não deveria fazê-lo por disciplina institucional. Basta confiar no seu legado, na candidata que escolheu e no contexto favorável.

Crime sem castigo tem carta branca para se repetir. Há inquietantes sinais de que a tecnologia da espionagem está se consolidando. Nunca mais se soube que um governo americano repetiu a tentativa de investigar o adversário político. O Watergate ficou como símbolo de que a delinquência política é punida exemplarmente. Nós ficamos aqui sob risco de novas gerações de aloprados a cada eleição.

fonte: O Globo

terça-feira, 8 de junho de 2010

LUIZ FELIPE PONDÉ

Sem esperança
Pergunto-me por que não proíbem professores de pregar o marxismo e toda a bobagem de luta de classes

RESPONDO ASSIM, de bate-pronto, a um aluno: "Não, não tenho nenhum ideal". Silêncio. Talvez um pouco de mal-estar. Todos ali esperavam uma resposta diferente porque todo mundo legal tem um ideal.

Eu não tenho. É assim? Confesso, não sou legal, nem quero ser. Duvido de quem é legal e que tem um ideal. Esperança? Tampouco. E suspeito de quem queira me dar uma.

De novo respondo assim, de bate-pronto, a outro aluno: "Não, não quero mudar o mundo, nem mudar o homem, muito menos a mulher, a mulher, então, está perfeita como é, se mudar, atrapalha, gosto dela assim, carente, instável, infernal, de batom vermelho e de saia justa".

Mentira, esta última parte eu acrescentei agora, mas devia ter dito isso também. Outro silêncio. Talvez, de novo, um pouco de mal-estar. Espero que falhem todas as tentativas de mudar o homem.

Não saio para jantar com gente que quer mudar o mundo e que tem ideais. Prefiro as que perdem a hora no dia que decidiram salvar o mundo ou as que trocam seus ideais por um carro novo. Ou as que choram todo dia à noite na cama.

Tenho amigos que padecem desse vício de ter ideais e quererem salvar o mundo, mas você sabe como são essas coisas, amigo é amigo, e a gente deve aceitar como ele (ou ela) é, ou não é amizade.

Perguntam-me, estupefatos: "Mas você é professor, filósofo, escritor, intelectual, colunista da Folha, como pode não ter ideal algum ou não querer mudar o mundo?".

Penso um minuto e respondo: "Acordo de manhã e fico feliz porque sou isso tudo, gosto do que faço, espero poder fazer o que faço até o dia da minha morte".

Perguntam-me, de novo, mais estupefatos: "Mas você está envolvido no debate público! Pra quê, se você não quer mudar o mundo?".

Sou obrigado a pensar de novo, outro minuto (afinal, são perguntas difíceis), e respondo: "Participo do debate público pra atrapalhar a vida de quem quer mudar o mundo ou de quem tem ideais".

Os intelectuais e os professores pegaram uma mania de ser pregadores, e isso é uma lástima. Inclusive porque são pessoas que leem pouco e que são muito vaidosas, e da vaidade nunca sai coisa que preste (com exceção da mulher, para quem a vaidade é como uma segunda pele, que lhe cai bem).

O que você faria se algum professor pregasse o evangelho ao seu filho na faculdade? Provavelmente você lançaria mão de argumentos do tipo que os intelectuais lançam contra o ensino religioso: "O Estado é laico e blá-blá-blá... porque a liberdade de pensamento blá-blá-blá...". Se for para proibir Jesus, por que não proibir qualquer pregação?

Pergunto-me por que não proíbem professores de pregar o marxismo em sala de aula e toda aquela bobagem de luta de classes e sociedade sem lógica do capital? Isso não passa de uma crendice, assim como velhas senhoras creem em olho gordo.

Nas faculdades (e me refiro a grandes faculdades, não a bibocas que existem aos montes por aí), torturam-se alunos todos os dias com pregações vazias como essas, que apenas atrapalham a formação deles, fazendo-os crer que, de fato, "haverá outro mundo quando o McDonald"s fechar e o mundo inteiro ficar igual a Cuba".

Esses "pastores da fé socialista" aproveitam a invenção dessa bobagem de que jovem tem que mudar o mundo para pregarem suas taras. Normalmente, a vontade de mudar o mundo no jovem é causada apenas pela raiva que ele tem de ter que arrumar o quarto.

E suspeito que, assim como fanáticos religiosos leem só um livro, esses pregadores também só leem um livro e o deles começa assim: "No princípio era Marx, e Marx se fez carne e habitou entre nós...".

Reconhece-se uma pregação evangélica quando se ouve frases como: "Aleluia, irmão!". Reconhece-se uma pregação marxista quando se ouve frases como: "É necessário destruir o mundo do capital e criar uma sociedade mais justa onde o verdadeiro homem surgirá".

Pergunto, confesso, com sono: "E quem vai criar essa sociedade mais justa?". Provavelmente o pregador em questão pensa que ele próprio e os seus amigos devem criar essa nova sociedade.

Mentirosos, deveriam ser tratados como pastores que vendem Jesus e aceitam cartão Visa.

fonte: Folha.com - ponde.folha@uol.com.br

sexta-feira, 4 de junho de 2010

TV HORIZONTE
Política na web

Na quarta-feira passada, dia 2 de junho, a TV Horizonte recebeu um dos nossos coordenadores, Gabriel Guerra, para debater o tema "política na web" no programa Celeidoscópio, apresenado pela jornalista Gisele Joa. Ou seja, 2010 é ano eleitoral. Como iniciativas como o Blog da Petrobras, o Blog do Planalto e os perfis no Twitter mantidos por políticos podem interferir nas eleições?

Apesar do nosso movimento ter um caráter apartidário, ao cotrário das iniciativas citadas, a política é um dos principais pilares da ética contemporânea. Portanto, colocar o dedo na ferida dos políticos é uma de nossas funções principais nesse livre exercício de cidadania.
Agradecemos à TV Horizonte pelo espaço aberto.
Somente o povo pode exigir e inserir a ética na política brasileira.