quarta-feira, 31 de julho de 2013

Bomba: Joaquim Barbosa pode renunciar

Por Carlos Chagas

Serão desastrosas as consequências, se os mensaleiros conseguirem convencer a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal a iniciar o segundo tempo do julgamento do maior escândalo político nacional, dando o dito pelo não dito e o julgado por não julgado, na apreciação dos embargos apresentados até quinta-feira.

Primeiro porque será a desmoralização do Poder Judiciário, tendo em vista que os réus já foram condenados em última instância, em seguida a exaustivas investigações e amplas condições de defesa. 

Depois, porque como reação a tamanha violência jurídica, Joaquim Barbosa poderá renunciar não apenas à presidência do Supremo, mas ao próprio exercício da função de ministro. Esse rumor tomou conta de Brasília, ontem, na esteira de uma viagem que o magistrado faz a Costa Rica, de onde retornará amanhã. Se verdadeiro ou especulativo, saberemos na próxima semana, mas a verdade é que Joaquim Barbosa não parece capaz de aceitar humilhações sem reagir. Depois de anos de trabalho como relator do processo, enfrentando até colegas de tribunal, conseguiu fazer prevalecer a Justiça, nesse emblemático caso em condições de desmentir o mote de que no Brasil só os ladrões de galinha vão para a cadeia. Assistir de braços cruzados a negação de todo o esforço que ia redimindo as instituições democráticas, de jeito nenhum. Em termos jurídicos, seria a falência da Justiça, como, aliás, todo mundo pensava antes da instauração do processo do mensalão.

Em termos políticos, pior ainda: será a demonstração de que o PT pode tudo, a um passo de tornar-se partido único num regime onde prevalecem interesses de grupos encastelados no poder. Afinal, a condenação de companheiros de alto quilate, por corrupção, ia revelando as entranhas da legenda que um dia dispÃ?s-se a recuperar o país, mas cedeu às imposições do fisiologismo.

Teria a mais alta corte nacional mecanismos para impedir esse vexame? Rejeitar liminarmente os embargos não dá, mas apreciá-los em conjunto pela simples reafirmação de sentenças exaustivamente exaradas, quem sabe? Declaratórios ou infringentes, os recursos compõem a conspiração dos derrotados.

Vamos lutar com a única arma que nos resta, divulgando. Isso sim, merece uma corrente.



Circula nas mídias socias


"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada". – Ayn Rand

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Essa pirâmide quebra uma país e escraviza seu povo

(imagem que circula nas mídias sociais)

Na realidade, isso é só a pontinha de uma gigantesca pirâmide. Um executivo que ostenta 39 ministérios, uma justiça que mantém verdadeiros marajás, mesmo sendo lenta e até injusta, um legislativo inchado, ineficiente e caro... É hora de evoluir Brasil. 

Que a visita do Papa Francisco represente uma mudança brusca de paradigma, de austeridade, de corte de mordomias e privilégios.  

Enquanto houver tanta discrepância nesse país, entre o setor produtivo e o setor público, jamais seremos uma nação desenvolvida de fato. Jamais teremos a tão desejada "justiça social", termo idolatrado pela retrógrada esquerda latina, a maior responsável pela "injustiça social" promovida por essa pirâmide.      

quarta-feira, 24 de julho de 2013

De bermudão, Cabral curte a vida usando helicóptero do Estado


Publicado no Blog do Noblat

Como podem ver este é um dos sete helicópteros que serve a Sérgio Cabral. Nele você pode ver impresso a logomarca do Governo do Estado.

O governador está de bermudão, camisa esporte, descendo no condomínio Portobello, onde tem sua suntuosa mansão, em Mangaratiba.

Em alguns finais de semana, a cena se repete mais de uma dezena de vezes ao dia, ora para pegar a Primeira-Dama, ora para buscar o seu cabeleireiro ou manicure, ora para trazer amigos, às vezes até para comprar algo de especial que não se encontre no paraíso do governador.

É de fato um tapa na cara dos contribuintes do estado, que pagam impostos para sustentar as mordomias da família Cabral.

E depois Cabral ainda quer saber porque tem gente pedindo seu impeachment.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Vocês não são donos do Brasil


Em seu primeiro artigo para o Mídia Sem Máscara, o cantor Lobão fala do conluio vergonhoso entre artistas militantes, o governo do PT e a Rede Globo, algo que está prejudicando centenas de outros músicos e compositores, obstruindo o debate sobre projetos de lei e sobre a ética no mercado cultural, além de permitir intervenções ainda maiores do estado nessa área.
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Vocês não são donos do Brasil
Mais uma vez, a mesma história: deixando a grande maioria da classe artísitica fora do debate, de sua idealização e formulação, foi aprovado no Senado, à toque de caixa, em tempo recorde, o projeto de lei que altera de maneira profunda o modo de como são arrecadados os direitos autorais no Brasil.
Como ninguém me deu um telefonema, um e-mail, um sinal sequer sobre qualquer reforma, muito me assusta saber por outras fontes que o sistema de arrecadação passará a ter um órgão governamental para fiscalizar o ECAD.
Esse simples item já nos coloca numa situação um tanto pertubadora, pois o o governo nos deve mais de 1 bilhão de reais através da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) que incorpora suas rádios e TV's. Fora o fato de ainda não sabermos quantos cargos comissionados serão criados para o novo órgão (já mencionaram 200), quem irá ocupá-los e escolhê-los e quanto o governo vai mamar por essa interferência... Sem contar com a sua intrínseca inconstitucionalidade. Isso sem falar de que estamos lidando com um dos governos mais corruptos da nossa história, com uma máquina inchada, 39 ministérios inoperantes e um forte viés ideológico a guiar todas as suas deliberações.
Como achar uma boa ideia aliarmos a esse governo? Como pensar em entregar o controle do nosso patrimônio para ser fiscalizado por esse governo ou por qualquer outro? Como não ter vergonha e constrangimento em ver colegas de profissão, artistas consagrados, a beijar a mão de Renan Calheiros e posar com Dilma Rousseff, fingindo representar-nos, para atropelar todo o processo de discussão e debate de um projeto de lei que vai proporcionar mudanças imprevisíveis e de prognósticos sombrios para todos nós?
É muito difícil achar um fio da meada de transparência numa ação tão obscura e com tantas arestas suspeitas deixadas em toda essa tramóia.
Afinal de contas, quem é que sai ganhando com isso? Os principais beneficiados são os usuários (rádios, tv's, empresas de telefonia, etc.).
Eu gostaria de saber quais são os verdadeiros interesses desses artistas que estão ligados por negócios ou contratos justamente com as organizações que vão sair ganhando com esse projeto de lei.
Comecemos pelos caciques: Gilbero Gil foi ministro da Cultura, e tinha como secretário Juca Ferreira, seu substituto na pasta e atual secretário de Cultura da cidade de São Paulo. Temos um outro importante ator que é o movimento Fora do Eixo, representado por Pablo Capilé, homem de confiança de Zé Dirceu, e que foi um dos reponsáveis pela falência da ABRAFIN, uma associação de festivais independentes bancada pela Petrobrás. Ele é um dos mais cotados para dirigir o tal órgão de fiscalização criado pelo governo. O Fora do Eixo arrecadou milhões de reais pela lei Rouanet no ano passado e por coincidência, foi justamente Capilé um assíduo interlocutor e articulador desse projeto de lei com a presidente da república.
Temos também o advogado Ronaldo Lemos, da FGV e representante do Creative Commons International como autor do texto do PLS 129/12. Ele é sócio no site Overmundo com o antropólogo Hermano Vianna, colunista do Globo e um dos criadores do progarama Esquenta, apresentado por Regina Casé, que atua em campanhas publiciárias do governo. Hermano trabalhou no ministério de Cultura nos tempos de Gil & Juca.
O Creative Commons é uma organização que luta pela extinção dos direitos autorais, um prato cheio para todos os usuários - rádios, redes de tv, companhias telefônis, sites na internet e outros.
O Fora do Eixo promove uma série de eventos culturais no país e é a plataforma de lançamento de nomes da música independente e do novo rap nacional, como Criolo e Emicida, que por outra sutil coincidência, tem como produtora Paula Lavigne, que tem negócios com a Globo Filmes, é empresária de Caetano Veloso, que é colunista no jornal O Globo e que tem suas canções executadas massivamente nas telenovelas da TV Globo. Emissora que detém um contrato de exclusividade com o rei Roberto Carlos.
A secretaria de Cultura de São Paulo, no início da gestão Juca Ferreira, acabou contratando os serviços de toda turma do movimento que encabeçou o evento "Existe Amor em SP"', chancelado pelo Fora do Eixo, que é formado por jornalistas, agitadores culturais e produtores musicais, todos cabos eleitorais de Haddad e integrantes da tropa de choque do PT na blogosfera. Todos esses arautos da propaganda governista e defensores ferrenhos dessa onda regurgitante de retropicalização da MPB apóiam apaixonadamente o tal PLS129/12.
Então, é para procurar saber? Pois bem: vamos abrir os demonstrativos de direitos autorais dos "trilheiros"que têm novelas no ar no momento? Vamos fazer um levantamento cirúrgico das novelas da Globo nos últimos anos com a participação de compositores desse grupo, ou seja, cruzar informações e focar nas parcerias dos trilheiros e outros compositores do grupo? Pois a nova lei propicia a criação de um novo cartel, um monopólio para eles, já que a máfia existe e todo mundo sabe.
Quais seriam os grande beneficiados desse projeto, já que não é qualquer mané que coloca música em novela e têm acesso aos controladores do esquema, naturalmente, todos muito ricos? Procuremos saber!
É a caixa preta das novelas que precisamos abrir! Planilhas falsificadas do tipo,"mais música do que tempo de novela".
É bem visível a presença massiva das músicas de Gil & Caetano em temas de abertura ou temas de personagens ao longo de todos esses anos de telenovela, não é verdade?Procuremos saber!
Vamos procurar saber o lucro líquido do Expresso 2222 na Bahia no ano passado? E o trabalho de Flora Gil (mulher de Gil), que é produtora e continuou em atividade mesmo enquanto ele era ministro? Procuremos saber!
E mais uma informação, só pra constar: Tim Rescala é contratado da Globo e faz as trilhas do Zorra Total... muito interessante!
Agora, quando falamos de execuções fraudulentas todo mundo despista e sai de fininho...Tentamos implementar uma lei de criminalização do "jabá", propina paga às rádios e tv's para executar músicas, lá pelos idos de 2003, mas o então ministro Gil desconversou e o projeto foi engavetado.
Um país com 99% de execuções fraudulentas, haverá necessariamente de obter um alarmante índice de arrecadações fraudulentas, não é mesmo?
Como podem perceber, fica muito difícil encontrar qualquer lógica nisso tudo. E que a coisa não cheira nada bem, não tenho a menor dúvida.
No máximo, em 15 dias a presidente assina o monstrengo e, num fim de semana, o fato será esquecido, como tantas outras mamatas.
Deixo claro à toda a opinião pública que, de agora em diante, esse grupo de artistas será responsável pela receita, pelos lares e pelas famílias de milhares de compositores e músicos que dependem diretamente desse sistema. A grande maioria anônima. E a esses colegas deixo um alerta: vocês, ao contrário do que imaginam e agem como se assim fossem, NÃO SÃO DONOS DO BRASIL.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Por que os militantes se voltaram contra os manifestantes


Por Diogo Costa para Ordem Livre

Independência partidária é analfabetismo político! Vandalismo é coisa de classe média conservadora! Se pintar de verde e amarelo é se decorar com as cores do fascismo!
Essas foram algumas das conclusões que os militantes mais engajados tiraram das manifestações brasileiras. Se estivessem certas, o Movimento Occupy seria um projeto analfabetização mundial, Oakeshott seria assinatura de pichador e o topete do Itamar deveria inspirar tanto pavor quanto a calvície do Mussolini.
A militância que ontem deflagrou a onda de protestos brasileiros hoje passou para a concorrência. Ela agora toma as ruas num esforço para substituir a espontaneidade massiva das manifestações pela organização tradicional de movimentos retrasados. Para evitar um progresso do debate público para temas e valores do século XXI, ela tenta manobrar a agenda política de volta para o século XX. Como se deu essa mudança? Essa pergunta se responde colocando o dedo no ponto onde psicologia, ideologia, retórica e estratégia se cruzam dentro da cabeça do perfeito militante latino-americano.
No The New York Times de 29 de abril, o colunista David Brooks traçou uma distinção entre escritores engajados e escritores desapegados.
O escritor engajado é aquele que “se alinha intimamente com um time”. Seu trabalho é “fornecer argumentos” a favor de seu partido, e apontar “os erros e transgressões” cometidos pelo outro lado. O engajado “está disposto a ser repetitivo” porque sua tarefa não é tanto persuadir o outro lado quanto mobilizar e “energizar as pessoas que já concordam” com ele.
Já o escritor desapegado “teme que a mentalidade de time ofusque sua visão.” Ele vê a política partidária “como uma competição entre verdades parciais”. Apesar de não ignorar a política, o escritor desapegado “prefere ter um impacto gradual” moldando as “percepções da realidade subjacente na esperança de proporcionar um contexto sobre o qual outras pessoas possam pensar”.
Brooks defende o desapego por “uma questão de higiene mental”. Se um escritor desapegado corre o risco de se tornar “irrelevante” dentro do seu próprio “senso de superioridade”, o escritor engajado corre riscos maiores. O engajamento nos afasta da ciência, da busca desinteressada pela verdade.
Goethe dizia que “a consciência é a virtude dos observadores e não dos agentes de ação”. Brooks concordaria com Goethe, e por isso nos convida a permanecer observadores. Mas ele se esquece de que a preocupação com “consciência” e “higiene mental” já pressupõe um compromisso com primeiros princípios que falta ao protótipo do engajamento, isto é, a militância.
Só adianta usar a saúde no argumento a favor da penicilina quando o outro lado faz alguma distinção categórica entre a vida humana e a vida bacterial. O militante não renuncia sua campanha ao apelo de Goethe porque, na verdade, o militante já concorda com Goethe. Ele está disposto a sacrificar sua consciência porque entende que “a ação é para a salvação em massa e não para a salvação pessoal do indivíduo.”
Saul Alinsky escreveu essa última frase em seu livro Rules for Radicals, de 1971 (versão PDF). Para a militância revolucionária, Rules for Radicals tem o papel que O Príncipe tinha para as autocracias renascentistas.
O que faz de Alinsky o Maquiavel da militância contemporânea. Com a diferença de que Maquiavel bajulava uma elite que o ignorava enquanto Alinsky, trabalhando como organizador comunitário de base, desprezava a elite de seu país até que ela passasse a reconhecê-lo. Barack Obama se inspirou em Alinsky quando se tornou um organizador comunitário. Hillary Clinton escreveu uma tese acadêmica intitulada“There Is Only the Fight . . . ”: An Analysis of the Alinsky Model.
Se Maquiavel é chamado de realista pela sua descrição avalorativa de como funciona o poder, Alisnky teria que ser chamado de surrealista político. O famoso slogan “os fins justificam os meios” atribuído a Maquiavel perde o significado na obra de Alinsky. Para ele, não há sequer “fins” objetivos que sirvam de critério legitimador dos instrumentos à disposição do agente. Fins podem justificar meios tanto quanto meios podem justificar fins, afinal o próprio conceito de justificativa já é instrumental para Alinsky. O militante deve compreender a moralidade como uma “racionalização retórica”, um “passaporte” para a ação: “faça o que puder com o que você tem e depois vista sua ação com roupas morais”.
“Dizer que meios corruptos corrompem os fins”, de acordo com Alinsky, “é acreditar na imaculada concepção de fins e princípios.” “Aquele que teme a corrupção teme a vida”, dizia. Fins e meios devem ser escolhidos e julgados e acordo com a atualidade da ação.
Pense na questão do vandalismo. Será que violência e depredação seriam meios legítimos para a ação política? Esse é o tipo de problema moral que perturba o observador, mas que se derrete no toque da militância. O discurso do militante se modela de acordo com a contribuição que um ato de vandalismo específico oferece para a realização de uma ação específica. Quando o vandalismo constitui a ação pretendida, a militância legitima a violência como uma resposta ao verdadeiro vandalismo dos hospitais sem remédios e das escolas sem professores. Quando o vandalismo prejudica a ação, ele passa a ser denunciado como uma óbvia demonstração de fascismo, mesmo que o militante do discurso presente e o vândalo da depredação passada sejam a mesma pessoa.
Por isso o discurso “sempre que houve uma revolução, foi com vandalismo”  virou o discurso que atribuía violência a grupos de extrema-direita. Por isso o movimento que se define em seu logotipo por um ato de vandalismo passa a assumir um discurso pacifista.
Se o militante vai ser pacifista como Gandhi ou violento como Che Guevara depende apenas das circunstâncias presentes, principalmente dos meios que ele tem a sua disposição. Alinsky aprovava a maleabilidade moral de Lenin quando dizia aos revolucionários bolcheviques: “eles têm as armas e portanto nós somos a favor da paz e da reforma através da urna. Quando nós tivermos as armas, vai ser através da bala.”
Não se pinta uma revolução molhando o pincel numa consciência limpa. O seguidor de Alinsky se entende como “um relativista político”, um estrategista sem “uma verdade fixa - a verdade para ele é relativa e mutável; tudo para ele é relativo e mutável.”
“Fascismo” e “nazismo” são termos relativos e mutáveis. Quando o militante partidário atribui uma ideologia de extrema direita a seu oponente, ele não está descrevendo as raízes históricas que, por inspiração ou por analogia, explicam determinado comportamento. O xingamento apenas emprega a simbologia necessária para neutralizar um oponente político.
Em seus momentos mais ousados, a militância usa uma terminologia para significar seu exato inverso. É o que acontece quando manifestantes independentes e apartidários passaram ser tratados como discípulos do totalitarismo. Se o apartidarismo neutralizasse o PSDB ou o PT, eles seriam a favor. Como neutralizam o PSTU e o PSOL, são contra.
Há um ano e meio atrás, os mesmos militantes que denunciam o apartidarismo das manifestações brasileiras estavam acampando em praças públicas inspirados pelo apartidarismo do Occupy Wall Street. Como lembra essa matéria:
O protesto do Occupy Wall Street pode ser um movimento, um fenômeno momentâneo ou algo no meio termo, mas uma coisa que seus ativistas mais ferventes insistem é que ele não é uma tropa de choque para nenhuma campanha política partidária.
Um porta-voz do Occupy Wall Street chegou a dizer que se alguém tentasse dar uma direção partidária ao movimento, “haveria tantas pessoas que se recusam a aprovação de qualquer partido ou candidato que eu não acho que isso chegaria a acontecer”.
A rejeição do partidarismo que antes era fonte de inspiração agora é denunciada como autoritária, de direita, etc.  Parece contradição, mas é só militância. Alinsky explica citando o matemático Alfred North Whitehead: “na lógica formal, uma contradição é um sinal de derrota, mas na evolução do real conhecimento ela marca o primeiro passo do progresso em direção à vitória.”
Por isso militantes marxistas achavam lindo quando as pessoas se pintavam de verde e amarelo e saíam as ruas contra o Collor. Mas agora dizem que sair de verde e amarelo é coisa de fascista. Por isso diziam que eram pelo passe livre, mas quando as manifestações fugiram do seu controle, cancelaram as passeatas e disseram que 20 centavos estava de bom tamanho.
Não é que a militância se transforma. Ela própria é um órgão de transformação. A compreensão da dialética da política militante, dizia Alinsky, é vital:
Ela liberta-nos do mito de que uma abordagem é positiva e outra é negativa. Tal coisa não existe na vida. O que é positivo para um homem é negativo para outro. A descrição de qualquer procedimento como “positivo” ou “negativo” é a marca de um analfabeto político. Uma vez que a natureza da revolução é entendida a partir da perspectiva dualista, perdemos nossa mono-visão de uma revolução e passamos a enxergá-la juntamente com sua contra-revolução inevitável.
A militância é ao mesmo tempo reformista e contra-reformista. Assim como ela foi pró-manifestação e contra manifestação. Na verdade, ela se aquece do choque entre movimentos contrários. Alinsky dizia que a criança aprende a dualidade da política desce cedo, quando joga o pai contra a mãe para conseguir ficar acordada até mais tarde.
Não estou dizendo que os membros do Movimento Passe Livre, do PSTU e do PSOL leram Alinsky, ou estão conscientemente praticando seus ensinamentos. Da mesma forma que O Príncipe pode explicar a ação de um monarca que nunca leu Maquiavel, acredito que Alinsky oferece uma explicação para as atitudes dos militantes que desafiam observadores mais lógicos e racionais.
Também não tenho esperança de debater com militantes, apenas de esclarecer suas ações. Desde que descobri Rules for Radicals por acidente em 2002 (numa caixa de livros que não coube na mudança do meu cunhado), percebi que militantes não se abrem a discussões ponderadas. Na época, eu editava com meu amigo Gabriel Araújo o Nova Ordem Jovem(NOJO), um jornalzinho distribuído de graça na nossa universidade. Apesar de gratuito, o jornalzinho conseguiu comprar o ódio da União da Juventude Socialista, a tal UJS do PCdoB. Achei que, provocados, eles iriam partir para o debate. Em vez de argumentos, usaram sua influência para cancelar nossa participação no diretório estudantil e impedir que organizássemos debates que contariam com aliados da própria UJS.
Alinsky explica essa hostilidade. O militante não deve se “comunicar com ninguém puramente sobre a ética ou os fatos racionais de um assunto”. O debate constrói um chão comum de humanidade entre os debatedores. Sugere que a discordância entre o militante e seu oponente é factual ou lógica, que talvez alguém tenha cometido um lapso em seu raciocínio. A militância prefere projetar uma separação ontológica para com seus oponentes: “Os homens irão agir quando estiverem convencidos de que a causa deles está 100% do lado dos anjos e a oposição está 100% do lado do diabo”.
E o que isso tem a ver com pobreza?
Para o militante, o pobre só é um anjo enquanto permanece pobre. Se enriquece, vira um demônio. O sujeito que nasce pobre, mas que trabalha de noite para conseguir estudar no Senai de manhã com o sonho de um dia abrir o próprio negócio, estaria descendo a escada do inferno.
Quando os-que-não-têm atingem sucesso e se tornam os-que-têm, eles se colocam numa posição de tentar manter o que têm e sua moralidade muda com sua posição no padrão de poder.
Ao falar de Upton Sinclair’s Jungle, uma favela de Chicago que já foi considerada a pior de todos os Estados Unidos, Alinsky transforma o sucesso da comunidade em tragédia. “Com seu poder, eles lutaram e venceram”, diz Alinsky. Lamentável essa vitória, porque “como parte da classe média, eles também são parte da nossa cultura racista e discriminatória”.
Militantes falam em nome da pobreza enquanto abominam soluções que melhorem a qualidade de vida dos mais pobres. Querem o passe livre mesmo que isso implique que o pobre que só anda a pé pague pelo ônibus do adolescente de classe alta. Onde estava a comoção quando tiraram vans de circulação em várias cidades brasileiras? Onde estavam os cartazes contra o sistema de cartéis do transporte urbano?
Capitalismo para os Pobres combate a pobreza com as armas da riqueza. Quando capacitamos os pobres com produtividade, quando derrubamos barreiras institucionais e intelectuais ao empreendedorismo, quando fazemos do comércio um instrumento de inclusão econômica, as famílias brasileiras elevam seu padrão de consumo e passam a viver uma vida mais plena e autônoma. O vídeo do Pedro que, fabricando sabão, “de peão, hoje [virou] rei” é uma história de sucesso de capitalismo para os pobres. Os filhos do Pedro não precisarão depender de bolsas disso, vales daquilo, talvez sequer do Sebrae. Da perspectiva militante, histórias de prosperidade e independência anunciam uma tragédia. Pedro passou para o lado negro da força. Militantes revolucionários se fazem de amigos dos pobres, mas são apenas amigos da pobreza.
“Enquanto [os socialistas] têm um tipo de amor sentimental pela humanidade em seus corações, o ódio flui de seus lábios.” A frase é de Frédéric Bastiat, economista francês do século XIX. Bastiat entendia que as reformas sociais deveriam favorecer a “associação progressiva e voluntária” entre os membros de uma sociedade. Uma “associação mais próxima entre trabalho, capital e talento”, dizia, “deveria resultar em mais riqueza para a família humana e sua melhor distribuição”. O livro de Bastiat se chama Harmonias Econômicas.
Bastiat sentava-se à esquerda do parlamento francês, mas rejeitava a militância socialista que ele via nascer na Paris do século XIX. As campanhas pela cooperação entre indivíduos e povos que Bastiat e outros liberais radicais franceses avançavam desde o século XVIII passaram a enfrentar, além de conservadores saudosistas do Velho Regime, um novo movimento autoritário que desencadeava “antagonismos fundamentais em todos os lugares”. Antagonismos, por exemplo, “entre capital e trabalho”, “entre agricultura e indústria”, “entre o produtor e o consumidor”, “entre o nativo e o estrangeiro”, “entre o trabalhador do campo e o morador da cidade”. Bastiat percebia que a natureza antagônica dos socialistas ia contra a ciência econômica, provocando crises contínuas na sociedade, e delas se alimentando. Era como se a oferta do socialismo criasse a sua própria demanda.
No alpinismo eterno do militante, o fim da pobreza seria um “blefe” e o “combate à pobreza” um fim em si mesmo. Existe apenas a luta… A perpetuação da pobreza não é um acidente da ação militante, mas sua práxis. “Nós vemos o topo da montanha ‘real’ na nossa frente, e lutamos por ele,” escreveu Alinsky, “apenas para descobrir que alcançamos mais um blefe, que o topo continua acima de nós. E assim se segue, interminavelmente”.
De certa maneira, Alinsky e Bastiat estão em precisa oposição. Bastiat queria a liberdade pela harmonia da ordem social. Alinsky encontra a liberdade nos conflitos da dialética revolucionária. O equilíbrio newtoniano contemplado por Bastiat é superado pelo darwinismo pragmático e inesgotável de Alinsky. A mudança pretendida pelo militante apenas ocorre quando há “aquela fricção abrasiva do conflito.”
É da fricção entre antagonismos que se acende a ação militante. Quando o fogo das manifestações saiu do controle da militância e começou a queimar as bandeiras dos próprios incendiários, restou aos militantes passar da reforma para a contra-reforma, como previa Alinsky. A luta sempre continua, só que agora contra o gigante-classe-média-fascista. A militância agora quer voltar a ter exclusividade nas ruas. Quer que o gigante volte a dormir. “A lei da mudança”, escreveu Alinsky, “deve preparar o anestesiamento da vítima antes de começar a cirurgia social”.
* Publicado originalmente no blog Capitalismo Para Os Pobres.

Tomou bonito



Danilo Gentilli fala sobre Jean Willys que, coitado, acredita não ganhar um bom salário. Talvez no dia em que ele resolver produzir, o mercado possa compensá-lo.


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós

Post publicado na Fanpage FocoLiberal, no Facebook  
  
Não basta você ser semi-escravo de políticos ao deixar mais de 40% da sua renda em impostos; não basta você ser obrigado a fazer alistamento militar e, se der azar, virar escravo de milicos por um ano; não basta você ter sua vida digital e seu telefone invadidos pelo governo americano; não basta você ser obrigado a contar toda sua vida à Receita Federal todos os anos; não basta você ser obrigado a votar, justificar ou pagar multa à justiça eleitoral; não basta você ser obrigado a seguir a cartilha ditadorial de Getúlio Vargas e ser obrigado a estar dentro da CLT e ouvir A Voz do Brasil. Agora, se você quiser ser médico, será obrigado a ser totalmente escravo do estado por 2 anos. 


Capitão do Mato (representado na imagem) será a profissão do futuro.


Entenda a origem em recente matéria publicada na Folha de São Paulo: 
Curso de medicina passará de seis para oito anos a partir de 2015

Idéia tirada da página Zé Oswaldo

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O verdadeiro plebiscito

Rodrigo Constantino

Tenho dito que um dos grandes problemas de plebiscito, além dessa questão da "democracia direta" descambar quase sempre para demagogia e populismo, é que quem controla as perguntas controla boa parte do processo. A forma de perguntar faz diferença, assim como o que é perguntado. 

Por isso gostei da provocação da revista VEJA, que preparou seu próprio plebiscito, sugerido para o governo. Seguem as dez questões recomendadas:

1. Os brasileiros trabalham cinco meses do ano só para pagar impostos e agora o governo quer que paguemos também todas as campanhas eleitorais dos políticos? Você concorda?

2. Se bem gasto, o dinheiro dos impostos seria mais do que suficiente para prover de educação, saúde e segurança os brasileiros. No entanto, a população tem de pagar uma segunda vez por escolas privadas, médicos e segurança. Você concorda?

3. Você concorda em proibir o uso de jatinhos da FAB por políticos e autoridades e, com o dinheiro economizado, investir na melhoria do transporte coletivo urbano e na saúde?

4. Aos 16 anos, um(a) brasileiro(a) já pode votar e se casar. Caso ele(a) cometa crimes bárbaros, deve ser julgado(a) como se fosse uma criança?

5. Você concorda que Brasília deveria abandonar a galáxia distante onde está e voltar para o Brasil?

6. Você concorda que deveria acabar a alegação de "réu primário", uma vez que isso beneficia quem mata pela primeira vez, mesmo que de maneira cruel e sem chance de defesa para a vítima?

7. Você aceita ceder aos caciques dos partidos políticos seu direito de escolher o candidato em quem votar?

8. Você concorda que deveriam ser fechadas as embaixadas brasileiras na Coreia do Norte, Cuba, Azerbaijão, Mali, Timo-Leste, Guiné Equatorial, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, Botsuana, Nepal, Barbados e em outros países sem a menor expressão, e o dinheiro gasto com elas investido nos hospitais públicos brasileiros?

9. Você concorda que quem recebe dinheiro do governo federal poderia ter o direito de se declarar impedido de votar por óbvio conflito de interesses?

10. O governo tem 39 ministérios e nenhum deles resolveu sequer um problema relevante do Brasil. Você fecharia a maioria deles?

Esse plebiscito sim, seria um sonho! Mas sabemos que não passa de mera ficção, pois o governo jamais vai perguntar ao povo tais coisas, por motivos óbvios. Por essas e outras é que não devemos aplaudir, em hipótese alguma, um plebiscito, especialmente coordenado pelo governo petista. Tal plebiscito visa apenas a concentrar ainda mais poder no PT e seus caciques. Xô, plebiscito!

PS: As sugestões da VEJA dariam um ótimo foco para os protestos vagos, difusos, cacofônicos que tomaram as ruas do país...

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Por que foram às ruas e o que realmente pedem os manifestantes?


Por Marcelo Mota Ribeiro

Resta pacificado, entre todos os atores envolvidos, sejam políticos, analistas ou até mesmo os próprios protagonistas, cidadãos médios, que a efervescência política que vive o Brasil não foi prevista e ocorreu de forma surpreendente. Entretanto, muito se tem especulado sobre as quais seriam as reais causas deste fenômeno e muitas hipóteses têm sido apresentadas. 

Adiante, ofereço um entendimento, particular, sobre a origem destes fatos, à partir de um olhar de quem já acompanha, com uma visão crítica, o desenvolvimento de alguns movimentos que, consoante ao que se colocará, culminaram na “Primavera Brasileira”. 

As ruas brasileiras sempre foram palco de manifestações, de diferentes grupos, de diferentes tendências políticas. Em todos os casos, até então, pudemos notar a presença de organizações de mobilização como responsáveis pela articulação desses movimentos, que sempre surgiram sob seus instrumentos de massificação. 

Considerando o recente período histórico da República, podemos constatar, por exemplo, que as históricas mobilizações denominadas “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, ocorridas nos meses que antecederam a deposição do ex-Presidente João Goulart, contaram com uma mobilização originada em organizações como a Igreja Católica e sindicatos patronais. Por sua vez, também é possível notar que as manifestações ocorridas no Regime Militar contavam com a mobilização originada pela ação de sindicatos e organizações estudantis. Os “caras pintadas”, também não foram as ruas de forma espontânea, tendo contado com uma mobilização que, além de organizações de trabalhadores e estudantes, contou com a ação de militantes de partidos políticos. 

Esse modelo perdurou até a chegada do PT ao poder, que sendo um partido formado por lideranças ligadas a maior parte destas organizações de mobilização, Igreja, sindicatos, organizações estudantis, dentre outras, criou na política nacional uma espécie de “establishment” (estabilização), no qual a estas organizações restou um profundo silêncio, em parte alimentado pelo acesso direto ou indireto ao poder, mas principalmente pelo repasse de vultuosos recursos financeiros direitos. A manutenção do monopólio e do imposto sindical obrigatório, repasses milionários para ONG’s e outras organizações como a UNE (União Nacional do Estudantes) que recebeu nos doze anos de governo petista valores que ultrapassam a casa dos setenta milhões de reais, são algumas políticas de controle exercida pelo PT sob essas organizações. 

Esse silêncio se tornou incômodo à classe média, que assistiu extasiada a inércia de iniciativa por parte destas organizações durante episódios estarrecedores como o conhecido esquema do “Mensalão”, sobre qual o poder executivo distribuía dinheiro diretamente para o bolso de líderes parlamentares em troca da aprovação de projetos no Congresso Nacional. 

Embora não tenha sido destacado pela imprensa, o fato é de que pequenos movimentos, passeatas, manifestações, com número reduzido de pessoas, desligadas de partidos e outras organizações sociais, já vinham ocorrendo com uma frequência relativamente pequena. Quem pode negar as manifestações ocorridas na época do conhecido caos aéreo ou as pontuais marchas contra a corrupção? 

Durante esses anos, a classe média já vinha ensaiando uma reação e descobriu em um intrumento novo, a possibilidade de mobilização que antes estava restrita ao monopólio das organizações sociais, a internet. O cidadão leigo, sem filiação partidária e sem participação em movimentos sociais, passou a ter voz e, o mais importante, contato entre si. 

Uma divisão, que se desnevolvia paralelamente dentro da própria esquerda política, a partir de setores internos que também estavam incomodados com a política de controle dos movimentos sociais executada pelo PT, foi estopim do movimento, mas acabou levando para as ruas aquela classe média que já não mais suportava o silêncio. 

Quando as bandeiras de partidos políticos, sindicatos e outras organizações foram vaiadas nas ruas, representantes de partidos como o PT ocuparam os microfones para denunciar o que chamaram de atitudes fascistas, da extrema direita, denunciando uma tentativa de golpe contra o governo. Todavia, apenas demonstraram que continuavam sem compreender a verdadeira mensagem, a de que o advento da internet não mais permitirá a manutenção daquele velho modelo de social-democracia patrocinada pela esquerda, dita democrática, que privilegia a estabilidade social em detrimento de efetivos avanços sociais, realizada a partir de políticas assistencialistas. 

Os manifestantes, todavia, não foram às ruas com um novo modelo para oferecer, e é o que exatamente tem deixado a classe política sem saber como responder e reagir. Os protestantes, em síntese, deixaram uma clara mensagem: o atual modelo está esgotado e não serve mais. 

O líder político que entender, de forma acurada, esse processo, ainda em curso, e oferecer este novo modelo, certamente se projetará na política nacional. A notícia preocupante é a de que até o presente momento não temos visto quaisquer líderes que tenham compreendido os fatos e apresentado outros modelos para o país. Nos resta torcer para que logo apareçam, para que esse hiato não leve o país ao caos.

Sabe quem banca as mordomias dos políticos?


Nem todos artistas são alienados

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Desacato























Por Contardo Calligaris para a Folha de São Paulo

Em 2010, quando quis marcar o dia da inspeção veicular do meu carro, já não havia mais horários. A primeira data disponível era depois do fim do prazo de minha placa.
A inspeção descobriu que meu escape estava furado. Naquele dia, a caminho do mecânico que trocaria o tubo, meu carro passou por um radar e foi multado por circular sem certificação ambiental. Isso, eu descobri quando a multa chegou.

Tudo bem, não riam de mim, é que morei muito tempo na Europa e nos EUA, mas eis o que eu fiz: escrevi uma bonita carta ao DSV, Departamento de Operação do Sistema Viário, incluindo cópia dos documentos que atestavam 1) minha passagem pela inspeção na manhã do dia da multa, 2) o resultado da inspeção, 3) minha passagem pelo mecânico no mesmo dia, 4) a inspeção final.

Expliquei que eu tinha sido multado no trajeto entre a inspeção e o mecânico que consertaria o defeito encontrado e pedi que o departamento reconsiderasse a multa.
Talvez eu merecesse a multa de qualquer forma (pelo atraso inicial), mas a questão é: você recebeu resposta? Eu, nem sequer um sinal de que alguém tinha recebido minha correspondência.

O tempo passou. Neste ano, 2013, uma vez o IPVA pago, o licenciamento demorava a chegar. Um despachante descobriu que a multa de 2010, com juros e correção monetária, tinha reaparecido e impedia que meu carro fosse licenciado.

O despachante "nunca riu tanto" quanto ao escutar a história de minha carta etc. --coisa de gringo mesmo, essa de acreditar que, naquele endereço indicado nas notificações, alguém se daria à pena de ler e responder a um cidadão.

Essa história me custou algum dinheiro, mas não fui pessoalmente nem à inspeção nem ao Detran. É minha desobediência civil de privilegiado: pago, mas não deixo o Estado abusar do que tenho de mais precioso, meu tempo.

Para o Estado, em geral, o tempo do brasileiro não vale nada, e essa desvalorização do tempo do cidadão talvez seja mais injuriosa do que as eventuais falhas nos serviços. Nos serviços, podem faltar recursos (somos pobres), mas o descaso com o tempo do cidadão é só desprezo.

O mesmo desprezo aparece no fato de que a administração brasileira carece de mecanismos para proteger o cidadão contra os abusos do poder. Nos Estados democráticos, proteger o indivíduo é uma das grandes preocupações dos legisladores.
Nos Estados totalitários (modernos e antigos) ou nos Estados de origem colonial acontece o contrário: o legislador protege a administração (o partido único, a "coletividade", o império, a corte de Lisboa, tanto faz) contra o reles súdito.

Um leitor, Bárbaro, comentando a coluna da semana passada, assinala que os brasileiros não são vítimas só de descaso, "mas de intimidação mesmo, como atestam aqueles famigerados cartazes em qualquer repartição pública alertando o pobre cidadão que o desacato a funcionário público no exercício de seu trabalho é crime" (pena de seis meses a dois anos de detenção ou multa).

Talvez a reforma em curso do Código Penal acabe com o crime de desacato, que é uma pura coação do Estado contra o cidadão. Enquanto isso não acontece, proponho que, nas repartições públicas, ao lado do cartaz do desacato, seja pendurado outro, que lembre as punições para o funcionário e para o próprio Estado quando eles desacatam o cidadão que eles deveriam servir.

É uma boa ocasião, aliás, para sugerir que o termo "funcionário público" seja substituído por "servidor público". O que importa não é preencher bem uma função num governo ou numa administração: os torturadores eram ótimos funcionários da ditadura; o que importa é cumprir honradamente a tarefa de servir os cidadãos.

A ausência de canais pelos quais seja realmente possível se queixar (junto com a ideia intimidante de que a queixa pode ser entendida como desacato) são provas da necessidade de uma reforma política profunda, que mude a relação do Estado com o cidadão.

Esta é uma coisa que qualquer psicanalista e psicoterapeuta constatam e que vale no consultório e fora dele: escutar não é apenas uma condição para saber o que curar e como, escutar é tão importante quanto curar. Um governo que não escuta não terá legitimidade, mesmo que consiga curar alguns ou todos os males.

Justamente, o silêncio do DSV fez com que eu gostasse de ver, alguns dias atrás, as vidraças do Detran quebradas pelas pedras dos manifestantes.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Plebiscito é só embromação!

JOSÉ NÊUMANNE * para o Estadão

A presidente Dilma Rousseff tem feito o possível para fazer do limão das multidões contra tudo nas ruas das cidades brasileiras a mesma limonada envenenada com que seu Partido dos Trabalhadores (PT) tenta em vão engabelar o País desde 2007. Há seis anos os petistas querem moldar as instituições republicanas a seus interesses específicos e impor a suas bases no Congresso Nacional uma reforma política que favoreça, se não uma imitação tupiniquim do bolivarianismo chavista, pelo menos a garantia de sua permanência no poder. Mas a acachapante maioria no Legislativo não bastou para aprovar o que os maiorais do socialismo caboclo consideram fundamental para manter suas "boquinhas". Agora o povo foi para a rua e a chefe do governo tentou incontinenti surrupiar suas palavras de ordem para convocar uma Constituinte exclusiva, capaz de satisfazer os caprichos que a reforma constitucional não possibilitou. O óbvio golpe sujo não colou, mas ela mantém idêntica embromação em forma de consulta popular, o plebiscito.
Acontece que as multidões ocuparam as ruas para reclamar, primeiro, da elevação da tarifa do transporte público. E daí em diante, sem oposição à altura que os represente na democracia, os manifestantes passaram a protestar contra o óbvio: a inflação, a impunidade, a violência, a corrupção e, sobretudo, a péssima prestação de serviços por um Estado que cobra um absurdo de impostos. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do PT (ou será o contrário?), foi rechaçada a pauladas de manifestação no Rio. E ninguém no País ouviu os gritos de "fascistas" com que militantes esquerdistas tentaram abafar o clamor apartidário que abortou a tentativa de infiltrar bandeiras do partido e camisas vermelhas numa passeata na Avenida Paulista. Esses invasores obedeciam à palavra de ordem do presidente nacional petista, Rui Falcão, que queria reverter a onda contra políticos numa manifestação a favor de Dilma e seus correligionários, alvos prioritários da insatisfação generalizada.
A resposta do governo foi de um cinismo atroz. Com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante Oliva, no papel de Richelieu do Cerrado, dona Dilma pediu ao povo na rua o aval para uma reforma política de interesse exclusivo de sua grei. O PT quer lista fechada de candidatos indicados pela oligarquia partidária para furtar do eleitor o direito de escolher seu parlamentar preferido. E financiamento público exclusivo para campanha eleitoral para extorquir do bolso do contribuinte despesas de propaganda de candidatos, cada vez mais altas. O cidadão já contribui para o tal Fundo Partidário e está com as finanças exauridas de tanto patrocinar vantagens e benesses dos "pais da Pátria".
Ao fazê-lo, ela diz que está ouvindo a "voz rouca das ruas". Mas o povo quer mudar tudo e ela só dará mais do mesmo. Enquanto seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciava que aumentará a carga tributária, com que o brasileiro não suporta mais arcar, para pagar promessas feitas para dissolver as passeatas das massas, ela reuniu 37 de seus 39 ministros, quase todos recrutados das bancadas dos partidos que alicia para seu palanque para a reeleição.
Talvez ela não tenha nomeado um ministro para cuidar das redes sociais porque o 40.º à mesa lembrará certo conto das 2.001 noites. Tal referência certamente não é nada agradável enquanto Rosemary Noronha, amiguinha íntima de seu padrinho e antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, protagoniza um escândalo em que é acusada pela Polícia Federal (PF) de fazer parte de uma quadrilha que traficava influência na cúpula federal. Por que Dilma não aproveita a capacidade auditiva que nunca tinha demonstrado antes para dispensar seu ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, da condição de Maquiavel do Planalto para que ele solucione este caso e descubra quem lucrou com a tenebrosa transação da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobrás?
Mas ela preferiu foi se aproveitar com desfaçatez oportunista da conquista da Copa das Confederações, definindo a própria gestão, contestada em praça pública, como "padrão Felipão". Mesmo tendo o Datafolha revelado na véspera sua queda de 27 pontos porcentuais e a constatação de que já não ganharia a reeleição no primeiro turno. Em vez de reunir o Ministério, cujo número a incapacita de conversar com um por um, ela deveria tê-lo reduzido a 12, número fixado por Jesus Cristo como ideal para uma equipe administrável. Mas como esperar isso de quem convoca governadores, prefeitos, sindicalistas, gays e lésbicas para que a escutem, e não para ouvi-los?
Pelos decibéis de suas broncas em subordinados, que contrastam com o papel de boneco de Olinda (só que falante!) que ela desempenha em pronunciamentos públicos convocados para embromar os cidadãos, que trata como súditos, Dilma deve ter muita dificuldade em ouvir a própria voz. Quanto mais a dos interlocutores que convoca para... escutá-la! Seus berros de "otoridade", porém, não impedirão que os clamores da rua cheguem às casas dos brasileiros. A queda vertiginosa nas pesquisas deixa claro que as favas para a reeleição já não são contadas e, se ainda é cedo para prever sua eventual derrota no pleito, não custa lembrar que a galáxia de adesões obtidas com a barganha de cargos por apoio parlamentar pode encolher com os índices de prestígio.
De fato, seu antecessor e padrinho Lula caiu para 28 pontos (dois menos do que ela agora) na pesquisa Datafolha feita à época em que o mensalão foi denunciado e, ainda assim, se reelegeu. Só que agora o julgamento desse escândalo no Supremo Tribunal Federal STF) e a condenação de seus companheiros Dirceu e Genoino deram à Nação a certeza de que seu partido em nada contribuiu para reduzir a corrupção no País. E se ela continuar condescendendo com a inflação e a impunidade, os cidadãos poderão sair de suas casas e das ruas para votar contra a perenização do status quo que os deixa indignados.
* JOSÉ NÊUMANNE É JORNALISTA, POETA E ESCRITOR.

VERGONHA !!! Presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB) usa avião da FAB para levar noiva e parentes ao Maracanã no domingo para assistir Brasil x Espanha. Todos se divertiram muito, até fotos postaram na internet, tudo com a grana do povo...


Depois os políticos não entendem por que o povo está nas ruas protestando, reclamando, e alguns até cometendo exageros.

O cidadão quando comete um exagero ao protestar é vândalo,e o Presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves,  quando usa a grana do povo, digo, avião da FAB para levar noiva e cia para ver o jogo no Maracanã, o que ele é ou comete ?

Por isso que eu digo, o povo ainda tem muito que sair nas ruas, os protestos ainda nem começaram, prova disso é que  o Presidente Henrique Eduardo Alves está nem aí !!!

Se o Brasil fosse um país sério, ele rodava na hora, teria no mínimo que renunciar, e aí ? 

Uma boa pauta FORA RENAN CALHEIROS E HENRIQUE EDUARDO ALVES !!!


Foto Henrique Eduardo Alves
 

Folha de SP:


O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), usou um avião da Força Aérea Brasileira para levar a noiva, parentes dela, enteados e um filho ao jogo da seleção no Maracanã no domingo. 

Um jato C-99 da FAB foi buscar a turma em Natal, terra do deputado. Decolou às 19h30 de sexta-feira rumo ao Rio de Janeiro e retornou no domingo, às 23h, após o jogo. 

Ao pedir o avião, Alves informou que 14 passageiros poderiam viajar. Pegaram carona com o deputado sete pessoas: sua noiva, Laurita Arruda, dois filhos e um irmão dela, o publicitário Arturo Arruda, com a mulher Larissa, além de um filho do presidente da Câmara. Um amigo de Arturo entrou no voo de volta. 

Todos aproveitaram para passear no Rio no sábado e, no dia seguinte, foram à final da Copa das Confederações, vencida pelo Brasil. 

O deputado e seus convidados usaram cadeiras destinadas a torcedores, e não às autoridades. Eles postaram fotos em redes sociais de dentro do estádio. No Twitter, Alves comemorou: "BRASIL, seleção nota 10! E a torcida tb, nota 10! O campeão voltou!!" 

Sua noiva também: "O campeão voltou... Rouquidão de hoje compensada". 

Se tivessem que pagar pela viagem de Natal ao Rio, ida e volta, cada passageiro gastaria pelo menos R$ 1,5 mil. 

O decreto 4244/2002, que disciplina o uso de aviões da FAB por autoridades, diz que os jatos podem ser requisitados quando houver "motivo de segurança e emergência médica, em viagens a serviço e deslocamentos para o local de residência permanente". 

O decreto não diz quem pode ou não viajar acompanhando as autoridades. 

Não constava na agenda de Alves, divulgada no site da Câmara, nenhum compromisso oficial no fim de semana. Ele disse, por meio da assessoria, que "solicitou" o avião porque tinha encontro com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), no sábado. 

"Como havia disponibilidade de espaço na aeronave, familiares acompanharam o presidente em seu deslocamento", disse. A reunião não foi informada pela Câmara. 

A assessoria de Paes enviou à Folha a agenda oficial dele no sábado. Não há menção a Alves. Os dois almoçaram num restaurante, junto com Aécio Neves (PSDB-MG).