Por Reinaldo Azevedo
Saiu uma nova pesquisa CNT/MDA sobre a popularidade do governo Dilma, o cenário eleitoral do ano que vem e a avaliação que faz a população do programa Mais Médicos. Dizem-se favoráveis à contração de médicos estrangeiros 73,9% da população — em julho, eram 49,7%, em levantamento feito pelo mesmo instituto. Aquela gente de crânio esquisito (o meu, furado, também é estranho, mas de outro modo) já começou: “Tá vendo? A população é a favor, e você fica criticando o programa…”. Bem, não critico a vinda de médicos estrangeiros, como é óbvio, mas o fato de não fazerem o Revalida — e, no caso dos cubanos, o regime de trabalho. Isso é evidente para leitores que têm apenas os dois pés no chão — os que estão solidamente plantados com os quatro membros no solo não entendem o que leem. A popularidade de Dilma subiu na comparação com o que o MDA mediu em julho: acham seu governo ótimo ou bom 38,1% dos entrevistados, contra 31,3% no levantamento anterior. O ruim/péssimo caiu de 29,5% para 21,9%. O desempenho pessoal de Dilma conta agora com a provação de 58% — era de 49,3%. Pré-jornada de junho, esses índices positivos passavam a casa dos 70%. Despencaram e agora começa a subir, com reflexo também nas intenções de voto (já chego lá). Os sites já estão coalhados de chutes monumentais, vendidos como análise, assegurando que o programa “Mais Médicos” elevou a popularidade. Vamos com calma.
Em primeiro lugar, uma resposta à turma do crânio esquisito. Eu nunca escrevi aqui que o programa Mais Médicos seria impopular. Se eu achasse isso e se estivesse certo de que seria rejeitado pela população, nem teria me ocupado do assunto. O próprio povo se encarregaria de afastar a mistificação. Ao contrário: eu o considero especialmente perverso porque contará, sim, com a aprovação. E até já registrei a razão óbvia para ser assim: entre médico nenhum e um de fala meio estranha, o que é melhor? Muitas vezes, a pessoa precisa apenas de alguém que a acalme, não é? Esse negócio será apresentado como a redenção da saúde, os problemas seguirão no mesmo lugar, continuará a faltar leitos, a tabela do SUS seguirá na pindaíba e pronto! Dilma, não obstante, irá à TV dizer que, agora, pobre tem médico. E há, adicionalmente, a imoralidade essencial, indissociável do programa: a forma de contratação dos cubanos — é mão de obra análoga à escravidão, sim!
Em segundo lugar, atribuir a elevação da popularidade de Dilma a um programa que mal saiu do papel e que, por enquanto, exibe mais problemas do que soluções é pura mistificação. Vocês sabem como vejo esse troço. Os índices da presidente melhoram porque, de fato, caíram de forma artificial em junho. PARA COMPREENDER: digo “artificial” porque nada ocorreu, então, de essencialmente novo. Não havia, em junho, nem mais nem menos motivos para gostar ou não gostar do governo do que havia em março (quando ela estava nos píncaros da glória) ou do que há agora. Os médicos não têm nada com isso. Apenas houve um refluxo da histeria de setores da imprensa com a suposta “Primavera Brasileira”. O resto foi feito pelos idiotas do Black Bloc e afins. O que havia de povo genuinamente popular foi expulso das ruas. Dilma vai recuperando, assim, gradualmente sua popularidade. Não voltará ao patamar que já teve, mas vai subir mais. Quando começar a colher os efeitos do complexo de vira-lata que está sendo excitado com essa história da espionagem, crescerá ainda mais. Se Obama disser qualquer coisa que possa ser entendida como um pedido de desculpas, aí dispara.
Cenário eleitoral
O cenário eleitoral é compatível com a recuperação da popularidade. Dilma passou de 33,4% em junho para 36,4% agora; Marina Silva (Rede), de 20,7% para 22,4%; Aécio Neves (PSDB) segue com os 15,2%. Eduardo Campos oscilou negativamente, de 7,4% para 5,2%. Num eventual segundo turno, Dilma bateria qualquer um dos seus adversários. Marina é quem daria um pouco mais de trabalho (40,7% a 31,9%). Contra Aécio, seria tranquilo (44% a 24,5%). Numa improvável disputa final contra Campos, um passeio: 46,7% contra 16,8%. Marina, por sua vez, venceria o segundo turno contra o tucano (39% a 22%) e o pessebista (45% a 12,5%). Em números de hoje, a única hipótese de o senador mineiro vencer seria numa impossível disputa com o governador de Pernambuco (30,9% a 14,9%).
Estranha rejeição
O instituto também mede a rejeição. Os números me pareceram um pouco estranhos — não conheço a metodologia e as perguntas feitas, mas vá lá: Dilma lidera com 41,6%, seguida de Aécio (36,8%), Campos (33,5%) e Marina (30,8%). Por que estranho? Acho todos os números muito elevados. Campos é pouco conhecido para ser rejeitado por um terço do eleitorado; o mesmo vale para Aécio (mais de um terço). Tendo a duvidar que mais de 41% se neguem terminantemente a votar em Dilma. Se for isso mesmo, a oposição está definitivamente lascada: Dilma teria um saldo negativo (intenção de voto no confronto com rejeição) de 5,2 pontos; o de Marina seria de 8,4 pontos; o de Aécio saltaria para 21,4, ficando atrás apenas de Campos, com 28,1. Esses números me parecem um tantinho inexplicáveis.
É isso aí. Passado o tsunami artificial — há razões de sobra, reitero, para o brasileiro não sair da rua; mas já havia antes, quando o governo era aprovado por mais de 70% —, as coisas começam a voltar a seu leito. Em condições normais de temperatura e pressão, não havia no horizonte a perspectiva de alternância de poder. Diminuído o calor das ruas, tudo tende para mais do mesmo. Juntas, Dilma e Marina têm 58,8% do eleitorado. Fica a cada dia mais caracterizado o que chamei de “torção à esquerda” do processo político. Quando o governo, nos números ao menos, quase beijou a lona, a oposição de fato — coisa que Marina e Campos não são — conseguiu ficar no mesmo lugar.
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