quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A esquerda caviar


Rodrigo Constantino, O GLOBO







O Rio é vítima de uma verdadeira praga: a “esquerda caviar”, formada por parte da elite financeira e cultural do país. Seus membros posam de altruístas enquanto louvam ditadores sanguinários como Fidel Castro. Do conforto de seus apartamentos em Paris, porque ninguém é de ferro.
  
Roberto Campos fez um diagnóstico preciso da árvore genealógica da turma, ao afirmar que “trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola”. Somente isso pode explicar a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda, que admiram o socialismo, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar: “Bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês”.

Um cínico poderia dizer que a hipocrisia é útil. Aproximando-se do poder, esses intelectuais conseguem privilégios e mamatas. A Petrobras, por exemplo, destinou a bagatela de R$ 652 milhões para patrocínios culturais entre 2008 e 2011. É uma montanha de dinheiro capaz de testar a integridade até mesmo de um santo!

Mas não creio ser apenas isso. Acredito que um dos fatores tem ligação com o sentimento de culpa dessa elite. E convenhamos: nada como uma elite culpada tentando expiar seus “pecados”. Com que facilidade ela adere aos discursos mais sensacionalistas e demagógicos. Chega a dar dó. Em um país que culturalmente condena o lucro e enxerga a economia como um jogo de soma zero, onde José, para ficar rico, precisa tirar de João, o sucesso acaba sendo uma “ofensa pessoal”, como disse Tom Jobim. Essa visão é um prato cheio para produzir uma elite culpada e desesperada para pregar aos quatro ventos as “maravilhas” do socialismo.

Por isso vemos cineastas herdeiros de banco fazendo filmes que enaltecem guerrilheiros comunistas. Por isso vemos filhos de grandes escritores lambendo as botas de tiranetes latino-americanos. Imagem é tudo.

E estas pobres almas acreditam que, ao louvarem a ideologia que quer destruí-los, conquistarão a fama de abnegados e descolados. Como é fácil falar que o capitalismo não presta quando se é milionário!

Joãozinho Trinta foi no alvo quando disse que os intelectuais é que gostam de miséria, pois os pobres gostam é de luxo. Nada mais natural do que desejar melhorar as condições de vida. E nada melhor para isso do que o trabalho duro em um ambiente de livre mercado. Lucro e trabalho são sócios nesta empreitada. O grande obstáculo é justamente o governo inchado, obeso, que cria burocracia asfixiante e arrecada quase 40% do que é produzido em nome da “justiça social”.

Quem labuta para criar riqueza e subir na vida não tem tempo para “salvar o planeta” ou construir “um mundo melhor”. Estas são as bandeiras da esquerda festiva, dos artistas que, do conforto de suas mansões, adoram detonar o capitalismo enquanto desfrutam de tudo de bom que só ele pode oferecer.

Sobre a seita ambientalista, aliás, recomendo a leitura do excelente livro “Os Melancias”, de James Delingpole. A máscara dos alarmistas climáticos que fazem ecoterrorismo cai por completo, expondo a verdadeira face vermelha por trás do movimento verde.
Mas divago. Eis o que eu realmente queria dizer: boa parte da elite carioca gosta de defender candidatos socialistas com discursos messiânicos. Entre uma cerveja e outra, essa turma esbraveja contra os ricos capitalistas e repete como sua utopia salvaria a humanidade das garras dos gananciosos e insensíveis. Depois voltam para seu conforto egoísta com a alma lavada. A retórica vale mais que atos concretos. Garçom, mais uma cerveja!

Foi assim que o brizolismo conseguiu prosperar no Rio, com os aplausos de muita gente da zona sul. Foi assim também que Heloísa Helena, do PSOL (o PT de ontem), conseguiu mais votos no Rio do que em qualquer outro lugar. O que esperar de um povo que elegeu Saturnino Braga em vez de Roberto Campos para o Senado? Essa análise toda foi para chegar ao novo queridinho da elite carioca, o personagem de filme de ação, herói que desafia as milícias. Há só um detalhe: seu partido é aquele que prega o socialismo (com um atraso de duas décadas), que pretende escolher até o tema das escolas de samba, que tem deputado que gosta de queimar a bandeira de Israel em praça pública, demonstrando sua intolerância, além de enorme desrespeito ao povo judeu. Leiam “Fascismo de esquerda”, de Jonah Goldberg. Socialismo e liberdade não combinam. Um é o contrário do outro. Todo regime socialista levou à escravidão e à miséria. Até quando os cariocas vão cair na ladainha dos artistas que adoram o socialismo, lá do conforto de Paris?

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A Liberdade de Chico Alencar

Rodrigo Constantino em seu blog

O deputado do PSOL Chico Alencar publicou hoje um texto na Carta dos Leitores do jornal O Globo, em resposta ao meu artigo “A esquerda caviar”. Vamos rebater um a um os pontos abordados pelo socialista.

Em primeiro lugar, ele afirma que eu agredi cineastas, músicos e artistas em geral, além de ecologistas e representantes políticos. Não! Eu apenas apontei a hipocrisia de muitos desses artistas e intelectuais, que defendem as “maravilhas” do socialismo, mas gostam mesmo é das coisas que só o capitalismo pode oferecer. O que foi apontado no meu artigo é a esquizofrenia dos admiradores de Fidel Castro que, no fundo, querem mesmo é acumular muita riqueza e despertar o consumismo burguês sem censura.

Depois Chico Alencar diz que eu ofendi a cidadania, ao indagar “o que se pode esperar de um povo que elegeu Saturnino Braga em vez de Roberto Campos para o Senado?” Como assim? Quer dizer que afirmar que os cariocas possuem um histórico de péssimos votos é “ofender a cidadania” agora? Que doideira. Não posso nem mesmo lamentar as péssimas escolhas de meus conterrâneos? Será que Chico Alencar estaria ofendendo a cidadania ao reclamar dos votos que levaram Collor ao poder?

Mas ele continua. Afirma que, para mim, servir ou combater a ditadura não são critérios respeitáveis para o voto. O que? O problema é outro, deputado. Muitos da esquerda a qual o senhor faz parte combateram os militares sim, mas vamos contar a história toda? Eles lutavam por qual causa? A liberdade democrática, por acaso? Nem aqui, nem na China! José Dirceu, o “chefe de quadrilha”, era um defensor da democracia?

A turma que o senhor defende queria era implantar uma ditadura do proletário no Brasil, nos moldes cubanos. Tanto que o ídolo dessa rapaziada era Fidel Castro, simplesmente o mais sanguinário e duradouro ditador da América Latina! Aproveito para lhe perguntar, deputado: o que o senhor pensa de Castro? O que o senhor acha do regime cubano? Satisfeito com a liberdade do socialismo? Poderia apontar um único caso de sucesso do socialismo?

Chico Alencar ainda diz que eu falseei a posição de Freixo sobre as escolas de samba. Eu vi a entrevista do candidato no RJTV. Ele foi bem claro: para ter verba municipal, tem de haver contrapartida cultural. E quem decide isso? Os burocratas apontados pelo governo! Logo, é exatamente como eu disse: o PSOL quer controlar até mesmo conteúdo de samba! Onde está a mentira?

Ainda foi dito pelo deputado que eu preciso me informar melhor sobre a questão de Israel. Ora, eu li o texto do deputado Babá “justificando” seu ato de queimar a bandeira de Israel em praça pública. Portanto, não estou desinformado. E repito o que disse: é uma demonstração de intolerância e desrespeito ao povo judeu queimar a bandeira de Israel dessa forma. Os socialistas acusam a única democracia do Oriente Médio de fascista. Foi por isso que recomendei o livro “Fascismo de esquerda” no meu artigo. O deputado deveria lê-lo...

Para Alencar, eu ataquei todos os que defendem o meio-ambiente. Não! Eu ataquei os ecoterroristas, os alarmistas oportunistas com uma agenda política por trás do movimento ambiental, usado somente como desculpa para mais concentração de poder no estado. Por isso, inclusive, recomendei o livro “Os Melancias”, de James Delingpole. O deputado deveria lê-lo...

Por fim, o deputado apela para o sensacionalismo e tenta monopolizar as virtudes, alegando que liberdade não é apenas a dos donos do capital. E quando foi que eu disse isso? Justamente, a liberdade é muito mais que isso; é, por exemplo, não ter que entregar metade do que ganha para um governo perdulário e corrupto; não ser tratado como um súdito pelos burocratas “iluminados”; enfim, tudo aquilo contrário ao socialismo que Chico Alencar defende.

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