segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O Senado Federal Morreu


O SENADO MORREU SEM DIREITO A HONRAS FÚNEBRES

A impunidade foi consagrada, a ética foi jogada no lixo. E os mineiros, onde estão os mineiros?

A IMPUNIDADE foi mais uma vez consagrada. A decisão da maioria dos senadores, absolvendo o sr. Renan Calheiros, comprovou que o Brasil não tem jeito, se tudo continuar como está. Depois de 110 dias de revelações espantosas envolvendo de forma negativa a conduta pública e particular do ainda presidente do Senado, 40 senadores consideraram inexistente e inválido tudo o que se comprovou contra o representante de Alagoas naquela casa legislativa. E o absolveram.

ALGUÉM poderia esperar resultado diferente? Claro, pelo menos da parte dos que ainda não perderam a esperança na recuperação ética e moral dos nossos homens públicos. Vã esperança. 40 ilustres representantes da maioria diria irresponsável assinaram, em tarde tumultuada e cinzenta, o atestado de óbito da ética na política, da moral na conduta, e mais grave, do próprio Senado. Que saiu da reunião desmoralizado, desacreditado. As cenas de pugilato, de desrespeito aos deputados e aos que acompanhavam o espetáculo deprimente ao vivo ou pelas emissoras de TV, não podem ter causado surpresa. O Brasil, nos últimos anos, transformou-se em uma imensa e corrupta Rocinha, em um perigoso Morro do Alemão, ou deixando a orla Atlântica e chegando aos morros que nos cercam aqui no Curral del Rey eterno, em uma conflagrada Pedreira do Prado Lopes, dominada pelos traficantes. Os murros, os chutes, os empurrões, os palavrões fizeram parte integrante do cenário melancólico vivido pela assim chamada Câmara Alta do poder Legislativo. Como se viu, não mais alta, muito pelo contrário.

O QUE SE deve estranhar é a ausência de manifestações populares condenando decisão absurda. Pelo menos até o momento em que escrevo nenhuma reação popular foi registrada pela imprensa. Mas como o condutor das massas em protesto, o PT de Lula, apoiou a permanência de Calheiros na presidência e no Senado, o silêncio dos que deveriam estar nas ruas, na frente do Senado em Brasília, com faixas e gritos de protesto, é perfeitamente explicado. Ao PT, a Lula, a decisão tomada foi a melhor para a tramitação de projetos como o da famigerada prorrogação da CPMF.

A PARTIR de hoje saberemos, sempre se sabe, quem votou pela cassação, quem votou pela absolvição e os nomes dos seis que preferiram covardemente a abstenção. Como votaram os três senadores mineiros? A informação corrente no Senado não nos era favorável. Dois teriam votado pela absolvição, um deles, confessado e fartamente anunciado, o atual folclórico suplente do ministro Hélio Costa, o terceiro teria preferido se abster. A informação, é claro, não é oficial. Minas Gerais, se confirmada a informação, logicamente, perde mais pontos na respeitabilidade política, que era uma tradição de seus homens públicos.

ENFIM, aí está. O Senado morreu. Agora, que os seus 46 coveiros cuidem do seu sepultamento. Sem direito a honras fúnebres nem a missa de sétimo dia.

Fábio P. Doyle

Jornalista

Da Academia Mineira de Letras

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