sexta-feira, 5 de julho de 2013

Por que foram às ruas e o que realmente pedem os manifestantes?


Por Marcelo Mota Ribeiro

Resta pacificado, entre todos os atores envolvidos, sejam políticos, analistas ou até mesmo os próprios protagonistas, cidadãos médios, que a efervescência política que vive o Brasil não foi prevista e ocorreu de forma surpreendente. Entretanto, muito se tem especulado sobre as quais seriam as reais causas deste fenômeno e muitas hipóteses têm sido apresentadas. 

Adiante, ofereço um entendimento, particular, sobre a origem destes fatos, à partir de um olhar de quem já acompanha, com uma visão crítica, o desenvolvimento de alguns movimentos que, consoante ao que se colocará, culminaram na “Primavera Brasileira”. 

As ruas brasileiras sempre foram palco de manifestações, de diferentes grupos, de diferentes tendências políticas. Em todos os casos, até então, pudemos notar a presença de organizações de mobilização como responsáveis pela articulação desses movimentos, que sempre surgiram sob seus instrumentos de massificação. 

Considerando o recente período histórico da República, podemos constatar, por exemplo, que as históricas mobilizações denominadas “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, ocorridas nos meses que antecederam a deposição do ex-Presidente João Goulart, contaram com uma mobilização originada em organizações como a Igreja Católica e sindicatos patronais. Por sua vez, também é possível notar que as manifestações ocorridas no Regime Militar contavam com a mobilização originada pela ação de sindicatos e organizações estudantis. Os “caras pintadas”, também não foram as ruas de forma espontânea, tendo contado com uma mobilização que, além de organizações de trabalhadores e estudantes, contou com a ação de militantes de partidos políticos. 

Esse modelo perdurou até a chegada do PT ao poder, que sendo um partido formado por lideranças ligadas a maior parte destas organizações de mobilização, Igreja, sindicatos, organizações estudantis, dentre outras, criou na política nacional uma espécie de “establishment” (estabilização), no qual a estas organizações restou um profundo silêncio, em parte alimentado pelo acesso direto ou indireto ao poder, mas principalmente pelo repasse de vultuosos recursos financeiros direitos. A manutenção do monopólio e do imposto sindical obrigatório, repasses milionários para ONG’s e outras organizações como a UNE (União Nacional do Estudantes) que recebeu nos doze anos de governo petista valores que ultrapassam a casa dos setenta milhões de reais, são algumas políticas de controle exercida pelo PT sob essas organizações. 

Esse silêncio se tornou incômodo à classe média, que assistiu extasiada a inércia de iniciativa por parte destas organizações durante episódios estarrecedores como o conhecido esquema do “Mensalão”, sobre qual o poder executivo distribuía dinheiro diretamente para o bolso de líderes parlamentares em troca da aprovação de projetos no Congresso Nacional. 

Embora não tenha sido destacado pela imprensa, o fato é de que pequenos movimentos, passeatas, manifestações, com número reduzido de pessoas, desligadas de partidos e outras organizações sociais, já vinham ocorrendo com uma frequência relativamente pequena. Quem pode negar as manifestações ocorridas na época do conhecido caos aéreo ou as pontuais marchas contra a corrupção? 

Durante esses anos, a classe média já vinha ensaiando uma reação e descobriu em um intrumento novo, a possibilidade de mobilização que antes estava restrita ao monopólio das organizações sociais, a internet. O cidadão leigo, sem filiação partidária e sem participação em movimentos sociais, passou a ter voz e, o mais importante, contato entre si. 

Uma divisão, que se desnevolvia paralelamente dentro da própria esquerda política, a partir de setores internos que também estavam incomodados com a política de controle dos movimentos sociais executada pelo PT, foi estopim do movimento, mas acabou levando para as ruas aquela classe média que já não mais suportava o silêncio. 

Quando as bandeiras de partidos políticos, sindicatos e outras organizações foram vaiadas nas ruas, representantes de partidos como o PT ocuparam os microfones para denunciar o que chamaram de atitudes fascistas, da extrema direita, denunciando uma tentativa de golpe contra o governo. Todavia, apenas demonstraram que continuavam sem compreender a verdadeira mensagem, a de que o advento da internet não mais permitirá a manutenção daquele velho modelo de social-democracia patrocinada pela esquerda, dita democrática, que privilegia a estabilidade social em detrimento de efetivos avanços sociais, realizada a partir de políticas assistencialistas. 

Os manifestantes, todavia, não foram às ruas com um novo modelo para oferecer, e é o que exatamente tem deixado a classe política sem saber como responder e reagir. Os protestantes, em síntese, deixaram uma clara mensagem: o atual modelo está esgotado e não serve mais. 

O líder político que entender, de forma acurada, esse processo, ainda em curso, e oferecer este novo modelo, certamente se projetará na política nacional. A notícia preocupante é a de que até o presente momento não temos visto quaisquer líderes que tenham compreendido os fatos e apresentado outros modelos para o país. Nos resta torcer para que logo apareçam, para que esse hiato não leve o país ao caos.

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