terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Em depoimento à PGR, Valério envolve Lula no mensalão, diz jornal


Operador do mensalão tenta obter proteção e redução de pena.
Procuradoria da República não decidiu se abre nova investigação.

Do G1, com informações do Bom Dia Brasil

Condenado a mais de 40 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como operador do mensalão, Marcos Valério afirmou em depoimento prestado em setembro à Procuradoria-Geral da República que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou os empréstimos dos bancos Rural e BMG para o PT com a finalidade de viabilizar o esquema do mensalão, segundo reportagem na edição desta terça-feira (11) do jornal "O Estado de S. Paulo". De acordo com a reportagem, o dinheiro do esquema também foi usado para pagamento de "despesas pessoais" de Lula. O PT negou, segundo o jornal, ter arcado com honorários do advogado do Marcos Valério.

O Instituto Lula informou ao G1 que ele não pretende se manifestar sobre a reportagem. Mas, segundo a assessoria do instituto, se mudar de ideia, Lula se manifestará por meio de nota oficial.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse nesta terça-feira (11), por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai se pronunciar sobre o assunto até o final do julgamento do mensalão pelo STF. A PGR já havia informado que novas informações repassadas por Marcos Valério não seriam incluídas na ação do mensalão, mas sim poderiam abrir um novo processo em primeira instância, por exemplo.

Segundo o jornal, o depoimento de Valério foi enviado ao STF, mas os ministros receberam as informações com cautela e alertaram que as declarações não mudam o julgamento do mensalão, que se encontra em fase final.

Durante os quatro meses de julgamento, o Supremo concluiu que o mensalão foi um esquema articulado de pagamento de uso de recursos públicos e privados para pagamento a parlamentares em troca da aprovação no Congresso de projetos de interesse do governo Lula e condenou 25 dos 37 réus. Segundo a denúncia da Procuradoria Geral da República, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado a mais de dez anos de prisão, foi o "chefe" do esquema, o que ele nega.

"O Estado S. Paulo" informa que teve acesso às 13 páginas do depoimento de três horas e meia dado por Marcops Valério no último dia 24 de setembro. De acordo com o texto, Valério procurou voluntariamente a Procuradoria-Geral após ter sido condenado pelo STF pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em troca do novo depoimento e de mais informações sobre o esquema de desvio de dinheiro público para o PT, Valério pretende obter proteção e redução de sua pena.

Segundo o jornal, o depoimento é assinado pelo advogado do empresário, o criminalista Marcelo Leonardo, pela subprocuradora da República Cláudia Sampaio e pela procuradora da República Raquel Branquinho.


O jornal informa que, aos procuradores, Marcos Valério disse que esteve com o então presidente Lula no Palácio do Planalto, acompanhado do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, sem precisar a data, e afirmou que Lula deu "ok" aos empréstimos do Banco Rural e do BMG para o PT. Valério também disse no depoimento, ainda segundo o "Estado de São Paulo", que repassou R$ 100 mil para despesas pessoais de Lula, por meio da empresa Caso, de Freud Godoy, então assessor da Presidência da República.

A CPI dos Correios, conhecida como CPI do Mensalão, comprovou recebimento de depósito de R$ 98,5 mil de Marcos Valério para a empresa Caso, segundo a reportagem do jornal. Ao investigar o mensalão, a CPI dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito pela SMPB, a agência de publicidade de Valério, à empresa de Godoy. O depósito foi feito, segundo dados do sigilo quebrado pela comissão, em 21 de janeiro de 2003.

A reportagem do jornal afirma ainda que, no depoimento, Marcos Valério disse que o então presidente Lula e o então ministro da Economia, Antônio Palocci, fizeram gestões junto à Portugal Telecom para que a empresa repassasse R$ 7 milhões ao PT. Esses recursos teriam sido enviados por empresas fornecedoras da companhia, por meio de publicitários que prestavam serviço ao PT. Segundo a reportagem do jornal, as negociações com a Portugal Telecom estariam por trás da viagem a Portugal, em 2005, de Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino e o ex-secretário do PTB Emerson Palmieri.

De acordo com o relato da reportagem, Marcos Valério disse aos procuradores que o PT pagou as despesas de R$ 4 milhões com os advogados dele no processo do mensalão.

No depoimento, segundo o texto, Valério contou que soube, em conversa com o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, que o empresário Ronan Maria Pinto vinha chantageando Lula, Dirceu e e Gilberto Carvalho, ministro de Lula e do atual governo da presidente Dilma Rousseff, em razão do assassinato de Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André. Outro empresário amigo de Lula, José Carlos Bumlai, teria pago R$ 6 milhões para comprar 50% do jornal "Diário do Grande ABC", que vinha publicando reportagens sobre o assunto.
Ainda de acordo com a reportagem, Valério acusou outros políticos de terem sido beneficiados pelo chamado valerioduto, entre eles o senador Humberto Costa (PT-PE).

A reportagem relata ainda que Marcos Valério disse ter sido ameaçado de morte por Paulo Okamotto, atual diretor do Instituto Lula e amigo do ex-presidente. "Se abrisse a boca, morreria", disse o empresário no depoimento à Procuradoria-Geral da República. "Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você", teria dito Okamotto a Valério, em encontro num hotel em Brasília, em data não informada pelo depoente, segundo o jornal.

Procurada pelo G1, a assessoria do Banco Rural informou que avalia se divulgará nota sobre o depoimento. O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, afirmou ao G1 que vai se pronunciar após ler a reportagem. As demais pessoas mencionadas pela reportagem do "Estado de São Paulo" negaram as declarações.

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