terça-feira, 8 de novembro de 2011

É estranho sentir saudades de uma ditadura que mal vivi ou na qual evitava viver

Por Raul Silva

Eu sou uma pessoa extremamente a favor do movimento estudantil. Acho sim que eles podem mudar a sociedade, apontar caminhos, pavimentar um futuro melhor.

Mas confundir isso com o que aconteceu na USP esses dias é um desrespeito à memoria das pessoas que pereceram aqui no Brasil e no mundo. Mas o movimento estudantil no Brasil virou uma piada, com a UNE pelegando na base do “quem dá mais”. Os jovens completamente perdidos com seus DAs controlados por partidos políticos que não se importam nem um pouco com a agenda estudantil ou mesmo uma agenda prática para melhorar a vida de milhões de pessoas. A eles só importam a panfletagem, chegar ao poder, mesmo que seja um poder ridículo como o de um DA.
 
E devido a essa agenda perdida vemos casos como esse da USP onde uma assembléia coordenada pelo DA foi simplesmente ignorada por outra dominada por um punhado de radicais que ainda sonham com o socialismo soviético, manipulados pelo sindicato dos funcionários da instituição. A “luta” era por readmissão de demitidos, contratação de terceirizados e contra a presença da PM no campus. Uma ou outra palavra para maior acesso da população ao campus. Pouquíssimas sobre o ensino em si. Decisões democráticas são para os burgueses, só a luta armada pode libertar o povo, etc.
 
Tudo começou com algo extremamente bobo, a apreensão de 3 pessoas que estavam fumando um baseadinho no morrinho. O que ia acontecer? A policia os iria levar para uma delegacia, assinariam um termo circunstanciado seguido de um puxão de orelha do delegado e talvez dos pais. Um processo ia rolar mas não daria em nada, talvez uma pena comunitária.
 
A PM não estava fazendo nada demais, apenas cumprindo o papel que a sociedade deu a ela. Fumar maconha ainda é crime no Brasil, por mais que eu ou você sejamos a favor da legalização, ainda não é. E só a força do pensamento não muda leis.
 
Pois bem, a presença da PM na Cidade Universitária se fez necessária pois havia uma escalada de violência lá com roubos, estupros e até homicídio. Para quem não sabe a Cidade Universitária é um gigantesco complexo de prédios dispostos em um terreno de mais de 8 milhões de metros quadrados. E em uma area tão grande é complicado manter a segurança por óbvio. Lá tem ruas, jardins e o que popularmente chamamos de quebradas, lugares afastados, com pouca iluminação onde o risco de algo ruim acontecer é real.
 
A PM não está patrulhando as ruas da Cidade Universitária para fazer gracinha. Estão lá por uma necessidade. Mas essa meia dúzia é obtusa demais. Tanto os estudantes, que são jovens e por isso ainda prepotentes, quanto um bando de gente que fica de fora aplaudindo, vendo tudo por suas TVs de 64″ em 3D.
 
E devido a apreensão dessas pessoas começou todo a história de invadir prédio do DA e depois reitoria para pressionar para que a PM fique PM fora da USP, pela não interferência da PM na USP, etc. Ai eu pergunto, qual a interferência que a PM teria na autonomia universitária? Eles estariam assistindo aulas e quando algum assunto “subversivo” entrasse em pauta eles apreenderiam o meliante? Estariam pressionando os estudantes para votarem em uma ou outra resolução? Opa, esse papel é dos políticos profissionais do DA.
 
O que os estudantes querem? Que o papel de prover a segurança publica seja desempenhado por uma milícia? Talvez estudantes com camisetas escrito “segurança” possam efetuar esse papel.
 
Está mais que na hora de desmistificar a Cidade Universitária. Ela é um aparelho público, do estado, não uma cidade estado independente com seus reis, rainhas e bispos. É preciso separar a prática do livre pensamento da idéia que livre pensamento é fazer o que bem entende sem consequências. Até porque são importantes no processo de aprendizagem e desenvolvimento de idéias.
 
Que tal em vez de hostilizar a PM não criar uma delegacia lá dentro com um “micro batalhão” para policiais civis e militares, gente que estará lá sempre, se tornando parte da vida da Cidade Universitária? Como fazem as bases comunitárias, que se não são um sucesso absoluto estão longe, mas muito longe de serem um completo fracasso. É preciso devolver a Cidade Universitária ao Estado. Vocês lembram antigamente quando os portões ficavam abertos a todos e a gente podia ir lá no domingo andar de bicicleta ou sentar debaixo de uma arvore? Eu lembro e lembro que era um dos locais mais agradáveis de São Paulo.
 
Mas para ser justo isso, de reabrir a Cidade Universitária para a população, é uma das reivindicações iniciais dos estudantes.
 
Por isso caros, PAREM de envergonhar o movimento estudantil e o retomem, o coloquem novamente no caminho correto. Mostrem que a UNE é mais que uma lojinha que vende carteirinha para meia entrada. Parem de lutar por micharias mesquinhas como seu “direito” de fumar um baseadinho no morrinho. Lutem por algo justo como 10% do PIB para educação, lutem por educação realmente universal do ensino básico a universidade, lutem por mais horas de aula. Enfim, lutem.
 
Juntem todos os DAs de todas as universidades de São Paulo (sem esse preconceito cretino de achar que por você fazer USP te faz melhor que o cara que faz UniNove) e parem a cidade por um motivo que valha a pena. Que faça até o mais reacinha bater palmas para vocês. (...)

Fonte: Hunf!!!

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