Cacoete ideológico em Cuba
Dilma frustra, ao imitar Lula na primeira viagem oficial a Cuba
Na primeira visita a Cuba, a presidente Dilma Rousseff foi traída pelo passado. Não se esperava que abordasse o tema dos direitos humanos em público. Mas decidiu fazê-lo, numa cerimônia no Memorial José Martí, e cometeu o grave erro de tentar relativizar os fartos e conhecidos crimes cubanos nesta área, incluindo numa infeliz pensata os delitos cometidos pelos americanos na base de Guantánamo, na ilha, uma nódoa, de fato, na História dos Estados Unidos. Mas misturou coisas diferentes, na visível tentativa de, como é praxe em parte da esquerda brasileira, passar a mão na cabeça dos irmãos Castro. Dilma pontificou que não se deve usar direitos humanos como arma política. De fato, mas, dito isto, incorreu neste mesmo erro.Ali, logo no início da viagem oficial, transformou-se em decepção a esperança que dissidentes tinham de que Dilma não repetiria a desastrada passagem de Lula pela ilha, no mesmo dia da morte de Orlando Zapata, um dos presos políticos de Fidel e Raul em greve de fome. De volta ao Brasil, comparou-os a prisioneiros comuns. O fato de o Brasil ter concedido visto à dissidente Yoani Sánchez, para ela vir ao país ao lançamento de um filme sobre a resistência em Cuba, alimentou as expectativas otimistas. Não que Dilma fosse discursar a favor dos cubanos perseguidos. Mas o silêncio em público poderia até levar a supor que o tema seria tratado em contatos privados.
— Ela agiu como Lula e não se interessou pelo povo cubano — desabafou Berta Soler, porta-voz das Damas de Branco, grupo formado por mulheres e familiares em geral de presos políticos. Foi mais forte, infelizmente o cacoete ideológico da extrema esquerda brasileira do final da década de 60 e início dos anos 70. Vem deste grupo, marcado pela luta armada apoiada por Cuba, a paixão cega da juventude pelo castrismo. Não importa para eles que a ilha seja, ao lado da Coreia do Norte, o último bolsão de stalinismo medieval, quase um pleonasmo.
Contaminado, também, por antiamericanismo atávico, o cacoete levou a presidente a tentar equiparar um regime brutal com uma das mais sólidas democracias do mundo, que carrega, é verdade, a mancha de Guantánamo. É risível, porém, tentar colocar no mesmo verbete uma ditadura de mais de meio século, com inúmeros crimes cometidos contra os direitos humanos — fuzilamentos, greves de fome e mortes, perseguições, etc — no currículo.
O Brasil como nação e Estado pode e deve ajudar Cuba na transição para um regime mais arejado. Com a subida de Raúl Castro, na doença do irmão, ocorrem tentativas de alguma liberação na economia, mas ainda aquém do necessário a que alguns ingredientes do livre mercado possa aumentar a produção de alimentos, para livrar os cubanos de um já histórico racionamento. Investimentos como os em curso na infraestrutura cubana, com apoio financeiro e tecnológico brasileiro, são ações também bem-vindas.
Mas de nada adianta fingir que Cuba não continua a ser uma ditadura violenta. A relativização na leitura da História é sempre perigosa. Por meio dela termina-se até “entendendo” por que Hitler fez o que fez com judeus, ciganos, homossexuais e artistas.
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