Quando você acha que nada pode descer ao nível do Esquenta, vem Serginho Groisman e diz:
Quando você acha que vão aparecer pichadores algemados pela polícia na delegacia, falando qualquer besteira depois rebatida por um delegado sério, vem o quadro do “Altas Horas” e…
…apresenta a terapia de grupo do Tio Serginho.
O que não se faz pela audiência dos jovens, não é mesmo?
Pichadores revolucionários relembram e justificam alegremente seus crimes, mostrando seu orgulho da marginalidade e sua ideologia barata, até que o vocalista Rogério Flausino, do Jota Quest, felizmente detona o vídeo e chama todos de idiotas, deixando o apresentador sem palavras, com cara de um.
Não é a primeira vez que Tio Serginho promove pichadores em seu programa. Será que ele vai comandar um BBB dos marginais também? Ou só, quem sabe, terapias de grupo semanais com ladrões, estupradores e assassinos? Até onde poderá descer a TV brasileira?
Assista à sessão de sábado, que transcrevo e organizo por temas, com destaque para a frase: “A gente resolve na tinta, entendeu?” Pois é. Na falta de leis de verdade para deixar os bandidos presos e apresentadores de TV minimamente responsáveis para não fazer deles interlocutores comuns, a gente resolve no controle remoto, entendeu?
Memórias da infância:
“A gente começa pichando o nosso quarto, depois a parede, o corredor…” “A escola depois…” “Aí é o caminho, né…”
Os crimes favoritos:
“O mais difícil que eu pichei foi um prédio lá em Osasco, que só o Di tinha pichado, que é um pichador histórico, nossa maior inspiração.”
“Foi uma escalada na 23 de maio. Foi muito complicado, tenso e… emocionante.”
“Eu fui reprovado e expulso, porque pichei a faculdade.” “Ele levou 30 pichadores para pichar no TCC dele.”
“A mais difícil mesmo foi uma escalada na São João, onde eu invadi ali por dentro, e tive que dar fuga nele descendo, um segurando a perna do outro. E na fuga eu tive que pular dentro do estacionamento dos polícia [sic] pra ter que sair fora.”
A concorrência criminosa:
“A rivalidade acontece em toda a cidade. Eu faço um lugar mais alto, outro quer me superar e fazer um lugar mais alto que eu.”
A concorrência legal:
“O parâmetro de respeito na rua é o da transgressão. Se o grafite foi feito de forma ilegal, a gente respeita. Se não foi, a gente já não é obrigado a respeitar.”
“O problema do grafite-moralismo, que é esse grafite que tomou conta da cidade, é que ele virou um antídoto contra a pichação. Mas é assim: a gente resolve na tinta, entendeu?”
As justificativas imbecis:
“O muro é uma agressão física. O picho é uma agressão estética. É uma disputa no espaço público: seu muro, meu picho.”
“Quando vão construir um prédio, um estádio, um shopping, ninguém consulta a população. Então as pessoas não têm participação na construção da cidade e ficam revoltada com o picho que é uma intervenção efêmera. Um prédio vai durar pra sempre. Um prédio na frente da janela da sua casa, nunca mais vai bater o sol lá. Agora o picho, não. O picho pode ser facilmente removido.”
O coitadismo idiota:
“A pessoa vê a gente na janela, ela vê um dano na janela dela, ela não vê uma pessoa…”
As confissões dos marginais:
“Eu sempre tive um tipo de revolta, alguma implicância assim, então eu sempre procurei descontar na sociedade.”
“O pichador é um artista, mas é um artista diferente dos outros. Nós somos artistas libertários, artistas transgressivos e revolucionários.”
“A gente é da rabisqueira, a gente gosta de rabiscar, seja lá o que for.”
O reconhecimento no crime:
“O reconhecimento que a gente busca é pela marginalidade.”
“Quando a gente participou da Bienal, que a gente invadiu, depois voltou convidado… Ali a gente estava sendo reconhecido pela marginalidade do picho, pela transgressão, pelo que o picho é mesmo.”
“Eu sei que lá na Barra Funda tá sujo pra mim.”
“Muitos pichadores sonham em ser de uma união dessa. Então tem essa questão de busca. É igual futebol: você começa jogando no time pequeno, depois quer jogar no time grande.”
A reincidência no crime:
“É uma pena de prisão que é substituída, você tem o benefício, porque é delito leve. As cadeias estão cheias. Tem uns amigos nossos que ficaram um mezinho presos aí, pra quitar tudo que deviam, mas depois voltaram pra ativa.”
Rogério Flausino detona:
“Esse vídeo aí não me acrescentou absolutamente nada, eu só consegui ter a certeza de que são uns idiotas, entendeu? São uns idiotas! Está claro que são idiotas! Você vê os caras falando, o cara não consegue concluir… O mais próximo que ele chegou de alguma coisa que talvez fosse… ok, ‘estamos fazendo um protesto, neguinho constrói um prédio na frente da minha casa, o sol não bate mais aqui, vou pichar tudo’. Tá bom. Quem vai limpar? Quem vai pagar pra limpar? Quem vai tirar? Cara, o cara faz um grafite, uma arte maneira, às vezes por conta própria, porque pediu a liberação da prefeitura ou não, enfim, uma arte legal. Aí você vai lá e rabisca tudo? Nêgo entra numa galeria de arte e pinta em cima de quadros que os artistas fizeram? Com que direito você estraga um quadro que alguém pintou? Qual é, bicho? Quem é você? Por que você acha que você pode fazer isso? Isso é ridículo! O cara foi expulso da faculdade, porque pichou a faculdade? É um idiota! Todo mundo aí é um idiota. Sinceramente, não me acrescentou em nada.”