quarta-feira, 30 de setembro de 2009

HEITOR DINIZ
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Gabinete do governador de PE ou delicatessen?
Postagem extraída do blog Crônica Política
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Hoje não dedicarei minhas linhas a qualquer análise interpretativa ou opinativa. O que trago neste post é apenas a transcrição de alguns itens adquiridos pelo governo de Pernambuco por meio do pregão eletrônico regido pelo edital 06/2009, cuja unidade compradora é nada menos do que o próprio gabinete do governador Eduardo Campos (PSB).

Que tal começarmos com a carta de vinhos e afins?


VINHOS

- Rosado, estrangeiro: 12 garrafas 750 ml;
- Nacional, Miolo Gamay, tinto, seco, fino: 96 garrafas 750 ml;
- Nacional, Miolo Seleção, tinto, seco, fino: 96 garrafas 750 ml;
- Nacional, Miolo Seleção, branco, seco, fino: 96 garrafas 750 ml;
- Nacional, tinto, seco, tipo Miolo: 120 garrafas 750 ml;
- Nacional, fermentado de uvas, fino, tinto, seco: 240 garrafas 750 ml;
- Nacional, fino, branco, seco: 336 garrafas 750 ml;
- Estrangeiro, generoso, de unhas viníferas: 12 garrafas 750 ml;
- Nacional, rosé, suave: 96 garrafas 750 ml;
- Nacional, tinto, fino, Benet e Merlot: 24 garrafas 740 ml;
- Nacional, branco, Miolo: 180 garrafas 750 ml;
Nacional, tinto, fino, seco, encorpado: 96 garrafas 750 ml.

UÍSQUE

- Escocês, destilado, engarrafado na Escócia: 168 garrafas 1 litro;
- Importado, red, 5 anos, engarrafado na Escócia: 60 garrafas 1 litro;
- Importado, 15 anos: 96 garrafas 750 ml;
- Importado, 12 anos: 96 garrafas de 750 ml.

CERVEJA

- Nacional, em lata: 840 latas 350 ml.

ESPUMANTES

- Nacional, fermentado de uvas e açúcar: 96 garrafas 750 ml;
- Nacional, tipo champanhe: 48 garrafas 750 ml.

CHAMPANHE

- Francês, garrafa fosca: 12 garrafas 700 ml.

GIM

- Inglês: 12 garrafas 1 litro.

LICORES

- Estrangeiro, de cassis: 12 garrafas 500 ml;
- Espanhol, de frutas: 12 garrafas 700 ml;
- Nacional, de genipapo: 12 garrafas 500 ml;
- Estrangeiro, de avelã: 12 garrafas 700 ml;
- Estrangeiro, de pêssego: 12 garrafas 700 ml;
- Estrangeiro, de café: 12 garrafas 700 ml.

AGUARDENTES

- Nacional, envelhecida em carvalho: 36 garrafas 700 ml;
- Nacional, destilado, mosto: 36 garrafas 1 litro.

VODCA

- Nacional, neutra: 60 garrafas 750 ml;
- Nacional, neutra: 60 garrafas 1 litro.

CARNES

- Pernil de cordeiro: 180 kg;
- Peru: 84 kg;
- Alcatra: 3 toneladas;
- Bisteca bovina e suína: 840 kg;
- Bode, parte dianteira: 120 unidades + 60 kg;
- Picanha: 360 kg.

PEIXES E CRUSTÁCEOS

- Lagosta: 180 kg;
- Camarão: 420 kg;
- Siri: 36 kg;
- Salmão em filé: 300 kg;
- Lula: 60 kg;
- Polvo: 36 kg;
- Truta: 24 kg.

FRIOS

- Avelã: 12 kg;
- Castanha de caju: 60 kg;
- Castanha portuguesa: 24 kg;
- Chantily: 12 kg;
- Anchova: 12 kg;
- Nozes: 24 kg;
- Queijo emental: 96 kg;
- Queijo gorgonzola: 120 kg;
- Queijo provolone: 60 kg;
- Queijo suíço: 60 kg;
- Queijo do reino: 120 kg;
- Queijo brie: 24 kg;
- Queijo camembert: 36 kg;
- Queijo grana: 12 kg;
- Presunto Parma: 24 kg.

SUPERMERCADO

- Alcaparras: 72 vidros;
- Azeite extra virgem de dendê: 36 vidros de 220 ml;
- Azeite de oliva puro: 540 latas;
- Bacalhau do Porto: 180 kg.

Há muitos outros itens aqui não citados. Mas creio que os mais, digamos, inusitados, estão todos aí.

O que dizer depois disso? "A conta, por favor"!

Aí vai: R$ 779.720,74.

É só passar no caixa. No débito, por favor... nos cofres públicos.


Fonte: Crônica Política

segunda-feira, 28 de setembro de 2009


ARNALDO JABOR
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Devo pedir champanhe ou cianureto?
O grande Cole Porter tem uma letra de música que diz: "Questões conflitantes rondam minha cabeça/devo pedir cianureto ou champanha?"
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Sinto-me assim, como articulista. Para que escrever? Nada adianta nada. Ando em crise, como vejo nos desenhos do excepcional Angeli, gênio da HQ. E como meu trabalho é ver o mal do mundo, um dia a depressão bate. Não aguento mais ver a cara do Lula de boné, dançando xaxado pelo pré-sal; não aguento mais ver o Sarney mandando no país, transformando-nos num grande "Maranhão", com o PT no bolso do jaquetão de teflon, enquanto comunistas, tucanistas e fascistas discutem para ver quem é mais de "esquerda" ou de "direita", com o Estado loteado entre pelegos sem emprego e um governo regressista nos jogando de marcha a ré para os anos 40; não dá mais para ouvir quantos campos de futebol foram destruídos por mês na Amazônia, quando ninguém jamais consegue impedir as queimadas na região, enquanto ecochatos correm nus na Europa, fazendo ridículos protestos contra o efeito estufa; passo mal quando vejo a cara dos oportunistas do MST, com a bênção da Pastoral da Terra, liderando pobres diabos para a "revolução" contra o capitalismo; não aguento secretários de Segurança falando em "forças-tarefas" diante de presídios que nem conseguem bloquear celulares; não suporto a polêmica nacionalismo pelego X liberalismo tucano de hímen complacente; tenho enjoo com vagabundos inúteis falando em "utopias", bispos dizendo bobagens sobre economia, acadêmicos rancorosos decepcionados, mas secretamente apaixonados pela velha esquerda.
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Tremo ao ver a República tratada no passado, nostalgias de tortura, indenizações para moleques, heranças malditas, ossadas do Araguaia e nenhuma reforma no Estado paralítico e patrimonialista; não tolero mais a falta de imaginação ideológica dos homens de bem, comparada com a imaginação dos canalhas, o que nos leva à retórica de impossibilidades como nosso destino fatal, e vejo que a única coisa que acontece é que não acontece nada, apesar dos bilhões em propaganda para acharmos que algo acontece.
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Não aturo essa dúvida ridícula que assola a reflexão política: paralisia X voluntarismo, processo X solução, continuidade X ruptura; deprimo quando vejo a militância dos ignorantes, a burrice com fome de sentido, tenho engulhos ao ver a mísera liberdade como produto de mercado, êxtases volúveis de "clubbers" e punks de butique, descolados dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, buscando ideais como a bunda perfeita, bundas ambiciosas, querendo subir na vida, bundas com vida própria, mais importantes que suas donas; odeio recordes sexuais, próteses de silicone, pênis voadores, sucesso sem trabalho, a troca do mérito pela fama; não suporto mais anúncio de cerveja com louras burras, detesto bingo, "pitbulls", balas perdidas, suspense sobre espetáculo de crescimento que só acontece na mídia; abomino mulheres divididas entre a piranhagem e a peruice. Onde está a delicadeza do erotismo clássico, a poética do êxtase?
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Repugnam-me os sorrisos luminosos de celebridades bregas, passos-de-ganso de manequim, notícias sobre quem come quem; horroriza-me sermos um bando de patetas de consumo, crianças brincando num shopping, enquanto os homens-bomba explodem no oriente e ocidente, enquanto desovam cadáveres na faixa de Gaza e em Ramos, com ônibus em fogo no Jacarezinho e Heliópolis, museus superfaturados evocando retorcidos bombardeios em vez de hospitais e escolas, espaços culturais sem arte alguma para botar dentro, a não ser sinistras instalações com sangue de porco ou latinhas de cocô de artistas picaretas vestidos de "contemporâneos".
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Não aguento chuvas em São Paulo e desabamentos no Rio, enquanto a Igreja Universal constrói templos de mármore com dinheiro arrancado dos pobres, e Sonia Hernandez, a perua de Cristo do Renascer, reza de mãos dadas com Dilma Rousseff de olhos fechados, orando pelos ideais de Zé Dirceu.
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Enquanto isso, formigueiros de fiéis bárbaros no Islã recitam o Corão com os rabos para cima antes de pilotar caminhões-bomba, xiitas sangrando, sunitas chorando, tudo no tão mal começado século XXI; não aguento ver que a pior violência é nosso convívio cético com a violência, o mal banalizado e o bem como um charme burguês; não quero mais ouvir falar de "globalização", enquanto meninos miseráveis fazem malabarismo nos sinais de trânsito, cariocas de porre falando de política e paulistas de porre falando de mercado, festas de celebridades com cascata de camarão, matéria paga com casais em bodas de prata.
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Lula com outro boné, políticos se defendendo de roubalheira, falando em "honra ilibada", "conselho de ética arquivado", suplentes cabeludos e suplentes carecas ocultando os crimes, anúncios de celulares que fazem de tudo, até "boquete"; dá-me repulsa ver mulheres-bomba tirando foto com os filhinhos antes de explodir e subir aos céus dos imbecis; odeio o prazer suicida com que falamos sem agir sobre o derretimento das calotas polares, polêmicas sobre casamento gay, racismo pedindo leis contra o racismo; odeio a pedofilia perdoada na Igreja, vomito ao ver aquele rato do Irã falando que não houve Holocausto, sorrindo ao lado do Chávez, cercados pelas caras barbudas de boçal sabedoria de aiatolás; repugnam-me as bochechas da presidente Cristina Kirchner destruindo a Argentina, Maluf negando nossa existência, Pimenta das Neves rebolando em cima dos buracos do Código Penal; confrange-me o papa rezando contra a violência com seus olhinhos violentos; não suporto cúpulas do G-20 lamentando a miséria para nada; tenho medo de tudo, inclusive da minha renitente depressão; estou de saco cheio de mim mesmo, dessa minha esperançazinha démodé e iluminista de articulista do "bem", impotente diante do cinismo vencedor de criminosos políticos. Daí, faço minha a dúvida de Cole Porter: devo pedir ao garçom uma pílula de cianureto ou uma "flûte" de champanhe rosé?

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fonte: OTempo

quinta-feira, 24 de setembro de 2009


foto: Werther Santana/AE - Estadão
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SAIU NO ESTADÃO
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Universitários protestam contra José Sarney em São Paulo
Objetivo era divulgar o movimento 'Ética Já', criado pelos Centros Acadêmicos de diversas faculdades
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Daniela do Canto, da Agência Estado
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SÃO PAULO - Estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade de São Paulo (USP) realizaram um protesto na madrugada desta quarta-feira, 23, em São Paulo. Eles vestiram diversas estátuas da cidade com camisetas que traziam os dizeres "Fora Sarney", em referência ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que teve a sua gestão como alvo de várias denúncias.
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Do protesto de hoje, participaram universitários de Direito da PUC-SP e da USP e de Engenharia da Escola Politécnica (Poli) da USP. A escolha de Sarney para estampar as camisetas é simbólica, afirmou o presidente do CA 22 de Agosto da PUC-SP, Marco Antônio Moreira da Costa. "Ele é o símbolo do tipo de político brasileiro que a gente não quer mais", explicou.
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Os universitários saíram da Avenida Paulista por volta das 4 horas e percorreram a Praça General San Martin, a Praça Ramos, a Praça Pan-Americana, o Parque Dom Pedro e a Avenida Santos Dumont. O objetivo do protesto era divulgar o movimento Ética Já, criado pelos Centros Acadêmicos (CAs) de diversos cursos, em diversas universidades, entre elas a da PUC-SP, USP e Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).

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Fonte: Estadão On Line
RODRIGO CONSTANTINO
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Hipocrisia da Esquerda
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Hugo Chávez afirmou que “sabia de tudo” sobre a volta do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, ao país, e ainda disse ter ajudado a “despistar” as autoridades sobre o paradeiro de Zelaya. O governo brasileiro nega ter participado da operação de retorno de Zelaya, mas parece extrema ingenuidade crer que ele simplesmente se “materializou” na embaixada brasileira, junto com outras setenta pessoas. Sem falar que Zelaya esteve no Brasil conversando com o presidente Lula pouco antes. Além disso, a embaixada não ofereceu asilo, e sim “abrigo”, tornando-se um palco para discursos políticos de Zelaya.
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Tudo isso já seria bastante estranho do ponto de vista do direito internacional e da diplomacia entre nações. Mas eu gostaria de focar no aspecto da incoerência dos discursos e atos dos próprios líderes de esquerda da América Latina. Afinal, são esses mesmos presidentes – Chávez e Lula – que costumam acusar o governo americano, não sem razão, de atos “imperialistas” quando este se mete indevidamente em assuntos locais dos países latino-americanos. Por que quando o governo americano se mete nos assuntos de outros países é “imperialismo”, mas quando o governo venezuelano se mete é uma “luta pela democracia”?
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O uso de dois pesos e duas medidas também costuma ser chamado de hipocrisia. É quando alguém utiliza critérios diferenciados para julgar coisas distintas, na tentativa de sempre condenar o que não gosta e proteger seus aliados ou interesses. Por exemplo, quando aquele que abraça uma cruzada pela “democracia” é o mesmo que defende o regime cubano, a mais duradoura ditadura do continente. Ou quando aquele que culpa o embargo americano a Cuba por sua miséria é o mesmo que condena a globalização e chama o comércio com os americanos de “exploração”.
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Tanta incoerência, tanta contradição, possui apenas uma explicação. Esses líderes esquerdistas não estão preocupados com princípios isonômicos ou com a honestidade intelectual, e sim com a única coisa que eles almejam: o poder.
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Fonte: Rodrigo Constantino

quarta-feira, 9 de setembro de 2009


fotos: blogsergio.com - por Ana Maclaren


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INDEPENDÊNCIA OU DEPENDÊNCIA
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7 de Setembro
Com a extorsiva carga tributária beirando 40%, classe estudantil comprada, censura à imprensa, aumento da impunidade e corrupção, será que o Brasil é um país livre, de fato?
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Não é o que pensam os bravos manifestantes de São Paulo. Sem ajuda de nenhum partido político, ONG, sindicato ou qualquer instituição... Sem ônibus pago por movimento que recebe verba pública, sem lanchinho pago por repartição púbica, sem patrocínio de nenhuma estatal... Bravamente saíram às ruas na segunda-feira, 7 de setembro para cobrar punição aos responsáveis pelos atos secretos no senado, ética na política, dentre outras reinvindicações pertinentes. Mais informações em blogsergio.com.




sexta-feira, 4 de setembro de 2009

BRASILEIROS NÃO FORAM ÀS RUAS EM GRANDE NÚMERO
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Mas apóiam com veêmencia a importante manifestação
Prova disso foi o pacífico protesto realizado em frente ao Masp, que contou com a presença de um leitor desse blog, conforme relatado em comentário. Parabéns aos manifestantes!.
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Do G1, com agências internacionais. foto: AP> G1
(...) Com palavras de ordem como "Não mais Chávez" e "Chávez ditador", manifestantes marcharam pacificamente em locais como Nova York, Madri, Paris, Bruxelas, Hamburgo, Toronto, e até Caracas, capital da Venezuela. (...)

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Leia, veja mais fotos e/ou vídeo no: G1
Para apoiar e Divulgar acesse: NO MAS CHAVEZ
HEITOR DINIZ NO CRÔNICA POLÍTICA
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Com pré-sal... e sem afeto?
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Como nem todo bom pizzaiolo é também um bom churrasqueiro, pode desandar a receita do "chef" Lula, que corre para colocar no cardápio nacional o mais apetitoso quitute brasileiro da atualidade: a suculenta picanha do pré-sal.

E nessa de "aumenta o fogo", "baixa o fogo", "põe carvão", "abafa", vem desagradando importantes convidados de um incerto jantar: de um lado os governadores, receosos de ficarem só com o osso, e, de outro, os parlamentares, instados a trabalhar de maneira intensiva.

E se o Congresso não tem compreendido bem sequer o significado de "trabalhar", que dirá com a partícula complicadora "de maneira intensiva"?

A bem da verdade, não apenas o jantar pré-salgado ainda é incerto, como incertos também são os próprios convidados.

Quem ficará com o primeiro pedaço? Quem ficará com o maior? Quem pegará a gordurinha? E quem vai ficar só no vinagrete?...

... E quem vai lavar a louça?

Do lado de cá, o que se discute é quem ficará responsável por pagar uma conta, ao que tudo indica, pré-salgada. Afinal, a capitalização que tem sido proposta para a Petrobras é simplesmente monumental. Para completar, só aceitam dinheiro vivo. Nada de cheque, cartão ou FGTS na jogada.

Ainda na obscura realidade e potencialidade do novo tesouro, outra dúvida: será um portentoso banquete, do qual sairemos todos regalados e clamando por um pré-sal de fruta (não resisti)... ou, após a exploração, correremos todos, ávidos, para o sanduba lá no trailer da pracinha?

A conferir.

Enquanto isso, chef Lula, não se esqueça de outro de nossos promissores tesouros, que há bem pouco tempo andava na crista da onda, além de ser ecologicamente mais correto que o ouro negro: o etanol.

Por hora, álcool mesmo, só na nossa boa caipirinha.

Com cana brava e limão capeta, para justificar algumas caretas por aí.

Ou seria a velha caipirinha preparada com as velhas jabuticabas, que só brotam por aqui?

P.S.: ficou com saudade do Lula do tempo do etanol? Olha ele aí: Crônica Política.

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Fonte: Crônica Política por Heitor Diniz

DEMÉTRIO MAGNOLI NO ESTADÃO

Esse crime chamado justiça
Texto:Estadão> Opinião> Quinta-Feira, 03 de Setembro de 2009 -
Foto Fórum da Liberdade em 2009.


A jornalista Helena Chagas, diretora de O Globo em Brasília (hoje na TV Brasil), soube por seu jardineiro de um depósito de vulto na conta do caseiro Francenildo Costa e passou a informação ao senador Tião Viana (PT-AC), que a transmitiu ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Então, Palocci convocou ao Planalto Jorge Mattoso, presidente da Caixa Econômica Federal (CEF). Naquele dia, Mattoso tirou um extrato da conta de Francenildo. À noite, 23 horas, reuniu-se com Palocci na casa do ministro, num encontro a três, no qual estava Marcelo Netto, assessor de imprensa do Ministério. No dia seguinte, o mesmo extrato que circulou na reunião foi publicado no site da revista Época.
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O enredo acima não é uma tese, mas uma narrativa factual, comprovada materialmente pelas investigações da Polícia Federal, que está nos autos da denúncia apresentada ao STF. A defesa alegou não existirem indícios robustos sobre a autoria da transmissão do extrato à revista e argumentou que o crime de quebra de sigilo bancário só ficou caracterizado no momento da publicação do extrato. O STF derrubou o argumento central da defesa, identificando indício de crime na transferência do extrato de Mattoso para Palocci. Mas só admitiu a denúncia contra Mattoso, que responderá a processo em instância inferior. Uma frágil maioria, de cinco contra quatro juízes, alinhou o Judiciário com o paradigma do Executivo, expresso por Lula: no Brasil, o Estado distingue os "homens incomuns" dos "homens comuns".
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A maioria que livrou de processo o "homem incomum" se orientou pelo relatório de Gilmar Mendes, o presidente do STF. Mendes é um defensor incansável de que a Justiça não se pode submeter ao "clamor das ruas" e do princípio do Estado de Direito de que ninguém deve ser punido sem a existência de provas capazes de arrostar a presunção de inocência. Não há nos autos prova acima de dúvida razoável de que Palocci tenha ordenado a quebra de sigilo. O STF, contudo, não julgava a culpa ou inocência do ministro. Julgava apenas o acolhimento da denúncia, ou seja, a deflagração de um processo. Para isso bastam indícios convincentes de participação em ato criminoso. Os cinco juízes que negaram tal estatuto ao relato comprovado nos autos condenam a Nação a conviver com a impunidade legal dos poderosos. Eles cometem um crime contra a justiça.
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Nunca, desde o encerramento da ditadura militar, o Estado brasileiro violou tão profundamente a ordem democrática quanto na hora em que Mattoso selecionou, entre os milhões de correntistas da CEF, o nome de Francenildo, uma testemunha da CPI que investigava o poderoso ministro. No mesmo dia em que o presidente da CEF acessava o extrato "suspeito", mas não o transmitia ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), guardando-o para Palocci, Tião Viana prometia aos jornalistas "uma grande surpresa". O poder que faz isso não conhece limites. Seu horizonte utópico é o Estado policial: a administração pública convertida em aparelho de intimidação permanente dos cidadãos, por meio da invasão da privacidade e da chantagem pessoal.
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"A corda acabou estourando do lado mais fraco, como sempre", diagnosticou o juiz Marco Aurélio Mello, referindo-se ao voto da maioria de seus colegas. Os cinco juízes decidiram que o crime inominável só pode ser reconhecido com a condição de que a responsabilidade por ele recaia apenas no agente direto da operação ilegal. O paralelo é inevitável: esses juízes abririam processo contra um rato dos porões da tortura, mas absolveriam de antemão os altos oficiais que comandavam a máquina de interrogar e torturar da ditadura militar.
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O relatório de Gilmar Mendes pendeu sobre o abismo por algum tempo, até ser resgatado da derrota por um inacreditável Cezar Peluso. O juiz destroçou a tese da defesa, mas, antes da conclusão lógica, imaginou a hipótese de que Mattoso não seguia uma instrução do ministro ao quebrar o sigilo de Francenildo. A sua hipótese altamente improvável talvez pudesse sustentar uma absolvição de Palocci ao final de um processo. Mas bastou-lhe para rejeitar a abertura do próprio processo que a escrutinaria. Peluso sucederá a Mendes à frente do STF, no ano que vem. A minha hipótese é de que ele decidiu contra seus próprios argumentos, sacrificando a justiça para estabelecer uma jurisprudência informal de submissão dos juízes ao voto do presidente do tribunal nos casos de valor político estratégico. A ordem tradicional que organiza o mundo não pode ser violada - eis a mensagem inscrita no voto de Peluso.
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A maioria configurada na defesa dessa ordem tradicional relegou Francenildo ao papel de espectador silencioso da solenidade de consagração de uma impunidade tão absoluta que impede a própria instauração de processo. Essa maioria assistiu, talvez levemente constrangida, ao espetáculo ignóbil proporcionado pelo advogado de Palocci, José Roberto Batochio, que assomou à varanda de sua Casa-Grande ideológica para apontar o caseiro como um "singelo quase indigente". Quando proferiram seus votos, os cinco juízes enxergaram um semelhante não em Francenildo, mas em Palocci. Eles votaram na sua casta, deixando as impressões digitais do persistente patrimonialismo brasileiro nos registros da Corte constitucional.
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Francenildo sou eu, somos nós todos, potenciais testemunhas de desvios de conduta das altas autoridades políticas. A decisão proferida por um STF diminuído equivale a uma mensagem destinada aos cidadãos comuns. Eles estão dizendo que o silêncio vale ouro: o privilégio a uma privacidade que não figura como um direito forte aos olhos da Corte devotada a interpretar a Lei das Leis. Estão condenando a Nação a calar quando se trata dos homens de poder. Como nem todos calarão por todo o tempo, estão condenando o País a ter novos Francenildos. É o preço que cobram pela absolvição do cidadão mais que comum.
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Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP.
E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br
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Fonte: Estadão